Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Dos milhões de torcedores aos milhões de dólares

A quarta-feira (10/8) foi marcada por vários amistosos entre seleções. No que a imprensa convencionou chamar de data Fifa, as confederações nacionais podem selecionar seus jogadores para participar de amistosos preparatórios. Tivemos jogos entre seleções importantes como Itália e Espanha, Estados Unidos e México, França e Chile e Áustria e Eslováquia, dentre outros menos expressivos no contexto futebolístico mundial.

Um dia após a partida entre Alemanha 3 x 2 Brasil, o blog do Perrone anunciou que os patrocinadores reclamam o alto preço cobrado pela CBF para um amistoso com a seleção brasileira e o baixo nível de futebol apresentado pela equipe nesses amistosos. Conforme o jornalista, a mercadoria seleção brasileira está em franca desvalorização devido a seus maus resultados e cotação em baixa, visto que desde 2006 o Brasil não ocupa a primeira posição no ranking da Fifa. Como consequência, é muito provável que a CBF passe a ganhar menos com os amistosos da seleção, algo que deixará o senhor Ricardo Teixeira bastante enfurecido…

No mesmo dia, Juca Kfouri afirma que atualmente jogam na seleção de Mano Menezes diversos jogadores que pertencem ao mesmo empresário do técnico (André Santos, Fernandinho, Jobson…). Coincidência ou não, o fato existe e o jornalista insinua que essa relação de proximidade pode levar à promiscuidade econômica entre o empresário do técnico e a CBF, quando os amistosos da seleção serviriam de vitrine para a venda de seus jogadores. Ainda segundo Kfouri, mesmo com os tropeços (amistosos e Copa América), Ricardo Teixeira confirma a manutenção de Mano Menezes no cargo, algo inédito, se lembrarmos as demissões de Wanderlei Luxemburgo, Leão e outros técnicos que por muito menos tiveram suas cabeças a prêmio pelo mandatário da CBF.

Pouco entusiasmo pela seleção

Os maus resultados da seleção brasileira, somados às diversas denúncias de corrupção na realização da Copa de 2014, analisadas implacavelmente por José Cruz no seu blog, levam-me a pensar que talvez a equipe nacional comece a não empolgar o torcedor brasileiro. Pergunto-me se essa seleção, produto comercial da CBF, possui alguma relação com o torcedor, com o garoto ou garota que assiste a um jogo de futebol e que sonha um dia ser jogador ou jogadora de futebol. Ainda me lembro da Copa de 1982, quando então tinha oito anos, vibrando pela seleção e gritando os nomes dos jogadores, do goleiro ao ponta-esquerda.

Duvido que algum garoto de hoje conheça os nomes de mais que três ou quatro jogadores que vestem a camisa amarela, apesar do apelo midiático aos jogadores de futebol. A rotatividade dos jogadores na seleção é algo difícil de entender ou de explicar e, portanto, o torcedor perde a noção de seleção visto que joga ali um bando de jogadores que logo serão substituídos por outros no jogo seguinte.

A falta de identidade e de proximidade da seleção com os brasileiros e, sobretudo, a arrogância com que a CBF, na figura de Ricardo Teixeira, comanda o futebol nacional, levará a seleção brasileira a ser algo banal para o torcedor. Como torcer por um time que não possui nenhuma relação com esse time? Eu me orgulho de torcer pelo América de Natal, apesar do meu mequinha estar na terceirona. Pergunte a algum torcedor do Santa Cruz do Recife se ele ama seu clube, atualmente na quarta divisão do futebol nacional. Já há anos que não sinto o entusiasmo das pessoas pela seleção brasileira, globalizada, vitrine de jogadores que, devido à influência de seus empresários, vestem o manto amarelo nacional.

A passos largos, a seleção brasileira está deixando de ser a seleção dos milhões de torcedores para ser a seleção dos milhões de dólares. No contexto atual, nunca foi tão útil o uso do refrão: todos juntos vamos, salve a seleção!

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[Fábio Fonseca Figueiredo é PhD em Geografia e economista, Viena, Áustria]