Muitos dos comentários jornalísticos feitos sobre as denúncias e combate à corrupção, em evidência no momento, são unânimes em assinalar que a presidente Dilma Rousseff encontra-se em sérias dificuldades – que seriam a perda, a desintegração, da sua “base aliada”, uma vez que os envolvidos são de partidos que lhe dão sustentação, inclusive do próprio PT. Acrescentam, sem sombra de dúvida, que tal situação exigirá muito mais concessões da presidente a esta chamada “base aliada” e, com isso, sabe-se lá o que vai ser do país.
Tais opiniões são emitidas com maiores ou menores detalhes, nas quais é difícil distinguir o que é fato do que é especulação dos articulistas e comentaristas de televisão, pois usam, da mesma maneira o que parecem ser os fatos em si e que jornalistas e comentaristas desvendam como o humor de uma ou outra autoridade, e encontros inesperados de políticos, comparações com outras atitudes de políticos e autoridades frente a crises como “esta” etc. etc., em geral confirmando a tese acima.
Ninguém vai querer “parecer corrupto”
Como de hábito, não se aventa nenhum outro desdobramento possível para esta “inquestionável crise” (sic) e rejeita-se a condição humana natural de que se pode não saber o que vai acontecer. Eu não sei – e duvido que alguém saiba – quais são as inquestionáveis implicações das atuais denúncias e esforços de combate à corrupção em andamento. Portanto, este tipo de abordagem jornalística, que parece ter se disseminado nos meios de comunicação do país, pouco contribui para nossa informação e, evidentemente, para o debate de ideias na nossa democracia livre e fundamentado.
Nada contra especular, quando há uma clara separação entre fatos e comentários e termino adiantando, é claro, a minha, partindo do princípio (?) que todos perdem com uma crise (?) como esta. Portanto, imagino que tudo isto pode resultar a curto/médio prazo em uma valorização dos órgãos estatais de combate à corrupção, com uma consequente (e parcial) separação do “joio do trigo” dos membros da base aliada, promovida pelos próprios partidos porque ninguém vai querer “parecer corrupto”, e também redefinições nas relações da presidente com a “base aliada”, que pode ser enxugada, ficando menor, mas mais consistente. Por outro lado, o que vemos hoje pode também se arrastar sem que nada mais relevante aconteça e aí possivelmente levantarão a falsa “confirmação” que “o brasileiro” não liga mesmo para essas coisas. Entre uma e outra possibilidade, o que acho menos provável é o que mais se diz, como esbocei no começo do artigo. Quem viver, verá. Inclusive eu.
***
[Eduardo R. Gomes é sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense]