Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O envolvimento de cineastas com a TV Globo

[do release da editora]

O mundo animal, o meio ambiente, a natureza, as novas dietas de emagrecimento, o cuidado com o corpo e com a saúde são, hoje, os principais assuntos abordados pelo Globo Repórter. Mas nem sempre foi assim. Na primeira década de sua existência, o programa, que estreou em 3 de abril de 1973, abordava outros temas, como o cangaço, o sertão, o coronelismo, as desigualdades sociais, o progresso desordenado, a poluição, a cidade, a migração, a violência. O Globo Repórter, seguindo o formato de seu precursor, o Globo-Shell Especial, uma série de documentários que ficou no ar entre 1971 e 1973, investiu na linguagem documental como forma de representar a realidade brasileira. Coordenado pelo cineasta Paulo Gil Soares, o programa teve a participação de diversos cineastas que estiveram comprometidos com um cinema politicamente engajado no contexto dos anos 1960. Entre eles, destacaram-se Eduardo Coutinho, Maurice Capovilla, Hermano Penna, João Batista de Andrade e Walter Lima Júnior.

Em seu novo livro, Depois da revolução, a televisão: cineastas de esquerda no jornalismo televisivo dos anos 1970, Igor Sacramento conta a história do envolvimento desses cineastas com a TV Globo, considerando os momentos cinematográfico e televisivo, os formatos produzidos, os conflitos travados, as negociações realizadas, os limites estabelecidos e os engajamentos possíveis dentro daquela que estava se tornando a maior emissora do país durante a década do auge e do declínio da ditadura civil-militar. Para contar essa história, o autor realizou uma intensa pesquisa nos jornais da época, coletando tudo o que foi publicado pela imprensa sobre os programas, os cineastas e a TV Globo, além de ter feito entrevistas com cineastas e jornalistas que viveram aquela experiência. Ainda analisou detalhadamente documentários dirigidos por Eduardo Coutinho e por João Batista de Andrade para o Globo Repórter.

Na apresentação ao livro, Ana Paula Goulart Ribeiro ressalta que Igor Sacramento alia com muito equilíbrio a reflexão teórica à pesquisa empírica, fazendo uma história da televisão que considera “o contexto político, socioeconômico e cultural, sem perder de vista a dinâmica interna de funcionamento dessa mídia, as suas lógicas profissionais e empresariais, mas também o seu valor estético e representacional”. No texto da orelha, Marialva Barbosa confirma que autor realizou, de fato, “uma história dos sistemas de comunicação, num percurso que não se limita às repetidas análises institucionais do meio, contadas por diversas tentativas de produzir uma história da televisão no Brasil”. Enfim, trata-se de um livro que produz cuidadosas articulações entre texto e contexto, um dos maiores desafios da análise dos produtos culturais realizadas nas Ciências Humanas e Sociais, como afirma Marcelo Ridenti no texto da quarta capa.

Sobre o autor

Igor Sacramento é graduado em Comunicação Social/Jornalismo (2005), mestre (2008) e doutorando (desde 2008) em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. É professor do curso de especialização em Comunicação e Saúde e pesquisador do Observatório Saúde na Mídia (Laces/ICICT/Fiocruz). Também é professor de graduação da Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Organizou as seguintes coletâneas: Retórica e Mídia: estudos ibero-brasileiros (com Fernanda Lima Lopes); Mikhail Bakhtin: linguagem, cultura e mídia (com Ana Paula Goulart Ribeiro); e História da Televisão no Brasil (com Ana Paula Goulart Ribeiro e Marco Roxo).