‘Ó, a Educação! Ó, a Educação! Promoção relâmpago! É só votar e levar! Ó, a Educação!’
É incrível como em campanha eleitoral a Educação se torna ‘produto de feira’ na boca dos candidatos. Entre as promessas eleitoreiras, as ações para melhorar a Educação do país estão sempre lá. É sempre prioridade… Mais incrível ainda é saber que para ser candidato não se exige nenhum nível de escolaridade específico (fundamental, médio ou superior). Basta não ser analfabeto! Caso o candidato não tenha um comprovante de escolaridade, precisa apresentar uma declaração escrita de próprio punho comprovando que sabe ler e escrever (leitura e escrita, nesse sentido, concebidas como decodificação e codificação, respectivamente). E estes mesmos candidatos saem afirmando ‘aos quatro ventos’ que investirão o que puderem na Educação. Ora, por que não estudaram, se veem como algo tão prioritário assim?
O juiz eleitoral Aloísio Sérgio Rezende Silveira, ao receber denúncia do Ministério Público Eleitoral contra um candidato supostamente analfabeto, afirmara que a legislação eleitoral não exige que os candidatos possuam mediano ou elevado grau de instrução, mas apenas tenham noções rudimentares da língua (!). Será que o problema está na legislação? E são essas pessoas que aprovarão (ou não) os projetos de leis relacionados à Educação, entre outros.
Vejam bem: para prestar qualquer concurso, exige-se grau de escolaridade específico. Para ser juiz, o curso de Direito; para professor de Língua Portuguesa, o curso de Letras; para ser médico, Medicina. E assim por diante… Para ser político, basta não ser analfabeto. Então, para que estudar? É como se não precisasse de qualificação em área nenhuma para ocupar o cargo. Receber votos é o que interessa. Por que não exigir curso superior ou especialização na área? Não é correto pensar que para ocupar um cargo específico o candidato entenda das funções a desempenhar? Não é para isso que servem os concursos, seletivos, entrevistas de emprego? Bem, na política é diferente…
‘Um pouquinho de Brasil, iá, iá…’
Foi curioso ter ouvido no horário político ‘gratuito’, reservado a um candidato a deputado federal dessa última campanha, a seguinte declaração: ‘Sou candidato a deputado federal. O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto.’ Mais curioso ainda foi saber que o referido candidato, cuja capacidade de leitura e escrita ainda está sendo questionada, fora eleito sendo o recordista de votos no país para o cargo supracitado.
É isso. Enquanto candidatos a cargos políticos se ‘estropiam’ numa guerra por votos, a grande massa ‘corre atrás’ da indispensável qualificação (das mais diversas formas possíveis) exigida pelo mercado de trabalho. A pergunta não deve ser, portanto, ‘Para que estudar?’, mas ‘Quem deve estudar?’ Bem, parece que fica evidente que para politicar, não precisa estudar, mas é imprescindível prometer Educação ao povo.
Como diria Ary Barroso: ‘Isso aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil, iá, iá… Deste Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz…’
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Professora de Língua Portuguesa na Unemat/Tangará da Serra, MT