Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

El País é salvo por investidores bilionários

Apesar do declínio nas tiragens, da queda na receita de anunciantes e da perspectiva de imensas mudanças estruturais, parece não haver falta de investidores ricos dispostos a apostar nos jornais. No ano passado, o homem mais rico do mundo, o bilionário mexicano Carlos Slim, emprestou US$ 250 milhões ao New York Times. Na Europa, o riquíssimo Nicolas Berggruen e seu parceiro investidor, o britânico Martin Franklin, compraram parte do jornal francês Le Monde e do espanhol El País.

Falta descobrir se os investidores estão interessados nos benefícios tradicionais dos quais gozam os proprietários das empresas de mídia ou se enxergam nos jornais apenas ativos problemáticos que oferecem uma oportunidade de investimento. Contrariando a crença generalizada, alguns investimentos no setor podem se mostrar rentáveis. Na segunda-feira (4/10), o New York Times anunciou que quitaria o empréstimo de Slim três anos antes do prazo estipulado.

Slim concordou em fazer o empréstimo cobrando juros incomumente altos de 14% e sob a condição de receber uma opção de 15% das ações da empresa. Desde então, o New York Times reduziu seu endividamento de US$ 1,1 bilhão para US$ 670 milhões, sobreviveu ao prazo de pagamento estabelecido para maio de 2009 e chegou ao fim do último trimestre com uma receita de anunciantes estável em relação à registrada um ano atrás. O anúncio da quitação antecipada não diminuiu as especulações quanto ao desejo de Slim de comprar o jornal. No mês passado, suas ações apresentaram valorização de 8% antes dos rumores serem afastados pelo porta-voz do bilionário.

Novos investidores ficarão com 70% da Prisa

Na Europa, Berggruen, de 49 anos, e Franklin, 45 anos, cujo pai, Roland, foi sócio de sir James Goldsmith, fazem apostas semelhantes em dois diários europeus que passam por dificuldades. Como Slim, eles dizem não ter interesse em adquirir influência sobre a mídia. Falando de Los Angeles, esta semana, Berggruen disse que não pretendia exercer influência editorial sobre El País. ‘Não falo espanhol. Quando fui proprietário da Media Capital (empresa portuguesa de mídia), não tive nenhum tipo de voz editorial. Ao mesmo tempo, não gostaria de investir numa voz editorial fraca.’ O importante era o investimento: ‘No desafiador ambiente de mídia contemporâneo, as publicações dominantes acabarão rendendo bons resultados. Nos próximos anos, haverá sobreviventes e sua sobrevivência se dará ao custo dos concorrentes menores’, disse ele.

A perspectiva de Franklin é semelhante: ‘Somos agnósticos nesta indústria. Procuramos empresas de qualidade que nos proporcionem a ocasião de investir capital com base em critérios oportunistas. Somos atraídos por grandes empresas que apresentem um balanço patrimonial problemático.’

A família de Franklin tem história no ramo: o pai dele pensou em comprar o Observer em 1975, antes de o jornal ser adquirido por ‘Tiny’ Rowland. ‘Não tenho nenhum tipo de interesse especial pela mídia. É meu primeiro investimento no setor e meu único objetivo é trazer governabilidade e direção’, disse ele.

Berggruen, Franklin e seus parceiros injetarão 900 milhões na Prisa, grupo espanhol de mídia que foi apanhado numa ‘tempestade perfeita’ de obrigações, dívidas e queda na receita. A família Polanco, que dominava o grupo, perderá o controle majoritário, pois 70% da Prisa ficarão com os novos investidores. ‘É melhor ter 30% de alguma coisa do que 70% de coisa nenhuma’, disse Juan Luis Cebrián, co-fundador e agora diretor-executivo da Prisa.

‘Possuir coisas não é lá muito interessante’

Investir em jornais é, ao menos, uma decisão que contraria a tendência geral. Parece que é necessário um tipo especial de empresário para fazer uma aposta dessas. Slim pode ser agora mais conhecido por sua riqueza e sua coleção de arte, mas poucos sabiam da existência dele nos Estados Unidos antes do empréstimo de emergência concedido ao New York Times.

Igualmente, Berggruen pode estar buscando um perfil de mais destaque. Ele vive em um mundo de luxo e aparenta não ter endereço fixo, viajando da Mongólia ao Gabão, de Londres a Nova York, muitas vezes passando apenas horas num mesmo lugar. Acumulou fortuna de US$ 3 bilhões investindo sua herança em ‘oportunidades financeiramente rentáveis’, mas agora está interessado nas chamadas ‘oportunidades moralmente rentáveis’, com objetivos sociais – de fazendas de arroz no Camboja a campos de energia eólica na Turquia. Ele também comprou a combalida loja alemã Karstadt, em um processo que comparou à peça de Beckett Esperando Godot.

Diz que abriu mão das propriedades, vendendo o apartamento em Nova York e a mansão na Flórida. O bilionário mantém sua coleção de arte num armazém de temperatura controlada em Rhode Island. ‘Possuir coisas não é lá muito interessante’, afirmou. ‘Viver em um ambiente grandioso para mostrar aos outros e a mim mesmo que possuo riqueza é algo que não me atrai. Tudo que tenho é em caráter temporário, pois temos pouco tempo neste mundo.’ Berggruen ainda conserva alguns traços da vida de bilionário, como a realização de uma festa anual para celebrar o Oscar, com convidados como Paris Hilton.

Franklin, diretor do fundo de hedge GLG Partners, é conhecido por pontuar sua agenda de reuniões com corridas Ironman – uma combinação de 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida.

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Jornalista