Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Busca por adolescente desaparecida ultrapassou grampos

Começam a emergir detalhes do escândalo que levou ao fechamento do tabloide News of the World. Membros do alto escalão da News Corp já identificaram – mas ainda não divulgaram – o nome da pessoa que deu ao detetive particular Glenn Mulcaire a missão de grampear as mensagens do telefone da menina Milly Dowler, assassinada em 2002. Também não está claro se foi o próprio Mulcaire ou outra pessoa quem obteve as mensagens. Sabe-se, por enquanto, que o jornal publicou mais informações contidas em mensagens de voz do que se acreditava no mês passado, quando o caso veio a público. A primeira edição do News of the World de 14 de abril de 2002, por exemplo, continha citações detalhadas de mensagens da caixa de entrada de Milly. Na edição final, por outro lado, o artigo trazia apenas um pequeno trecho referente a uma mensagem de telefone. Quando o escândalo surgiu, foi analisada apenas a última edição.

Ainda em abril daquele ano, pelo menos oito repórteres e fotógrafos ficaram de tocaia por três dias em frente a uma fábrica de cartuchos de impressora da Epson na esperança de conseguir um grande furo: o de que Milly havia sido encontrada viva. O jornal havia tido acesso a uma mensagem de voz que sugeria que a menina de 13 anos estaria trabalhando na fábrica. Com base nisso, os jornalistas acreditavam que ela havia fugido de casa e conseguido um emprego, e a ideia era interceptá-la quando estivesse saindo do trabalho.

O escândalo de grampos ilegais no News of the World não é novo, mas até o início deste ano a News Corp mantinha a versão de que o problema era restrito a um único jornalista, Clive Goodman, preso em 2007 por invadir os telefones de funcionários da família real britânica.

Problema grande

No início do ano, a Scotland Yard reabriu as investigações sobre práticas ilegais de apuração no News of the World depois do surgimento de evidências de que o caso dos grampos seria maior do que se imaginava. Há alguns meses, a família de Milly Dowler foi avisada pela polícia sobre a invasão ao telefone da menina.

No início de julho, o jornal The Guardian divulgou a história, gerando comoção pública. Até então, as vítimas de grampos eram celebridades, políticos, atletas estrelados, enfim, figuras públicas. Uma semana depois que o grampo ao telefone da adolescente veio a público, o fundador da News Corp, Rupert Murdoch, encontrou-se com os pais dela para pedir desculpas – ele nega, no entanto, que tivesse conhecimento de práticas ilegais no News of the World. Até agora, 15 pessoas já foram detidas na investigação. O primeiro-ministro David Cameron nomeou um comitê parlamentar para investigar a fundo o caso.

Assinaturas trocadas

Milly Dowler desapareceu em março de 2002, quando voltava da escola, e a história provocou comoção nacional. Na ocasião, o News of the World cobriu agressivamente o assunto. A revelação da invasão à caixa postal de Milly levou o caso dos grampos a um novo patamar. Não só o jornal teria interceptado mensagens da menina, como algumas teriam sido apagadas, o que levou a polícia a acreditar que ela estava viva e continuava a checar as mensagens em seu telefone.

O tabloide nunca publicou material sobre a “perseguição” a Milly na fábrica da Epson. Mas nos dias seguintes à tocaia frustrada, continuou a divulgar informações obtidas em mensagens no telefone da menina. Em um dos artigos, era citada uma mensagem sobre uma entrevista de emprego deixada no telefone de Milly e duas outras consideradas enigmáticas.

Na versão deste artigo publicada nas primeiras edições do dia, na Inglaterra, a assinatura era do repórter Robert Kellaway. Uma versão quase idêntica da matéria publicada na edição escocesa trazia assinatura de Sarah Arnold.

Ex-funcionários do News of the World dizem que não era algo incomum editores assinarem matérias com o nome de repórteres que não as tinham escrito. Um jornalista – Edward Trevor – que teria assinado centenas de artigos ao longo dos anos não existiria, segundo estes ex-funcionários.

O corpo de Milly Dowler foi encontrado em setembro de 2002. Em junho último, Levi Bellfield foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato – ele já tinha outras duas condenações, também por assassinato. Com informações do Wall Street Journal [20/8/11].