Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As passagens e os meios

Muito se fala sobre a qualidade das passagens feitas pelos repórteres em telejornalismo. O artifício tem como principais objetivos enaltecer, ressaltar e destacar determinada informação. É importante ressaltar que, quando se trata de telejornalismo, a informação precisa ser considerada em um contexto. Assim, dados, narrativa, entonação, composição, performance e dinamismo precisam ser pensados a fim de facilitar a compreensão do fato narrado.

Como informação indispensável, o texto por si só já desempenha papel de composição. Um conteúdo bem elaborado para a passagem que transmita ritmo e firmeza para todo o contexto da matéria é elemento fundamental para a coesão do tema e para a compreensão eficaz do telespectador. Porém, outro detalhe que merece atenção do jornalista ao pensar, não o texto, mas a colocação da matéria, é o aspecto físico da montagem. Neste ponto, é necessário sensibilidade e um tom de senso crítico do profissional para a escolha do local onde a passagem será gravada. Um bom relacionamento com sua equipe, principalmente com o repórter cinematográfico, que tem uma visão diferenciada da imagem, e uma coesão afiada com a narrativa, são detalhes essenciais.

O primeiro ponto que requer atenção é a escolha do tema. Como já foi dito acima, ressaltar e reforçar a parte mais importante do assunto é uma boa saída para a passagem. Outro artifício é colocar na passagem a informação onde não se tem a cobertura de imagens ou não é possível usar artes.

Em segundo lugar, é necessário coesão de tempo. Por muitas vezes a matéria é montada por mais de um repórter, ou então em dias distintos. Assim, gravar uma passagem à noite, quando as imagens em maioria foram feitas durante o dia, ambientes que contrastam entre si e mudanças repentinas de ambientes sem coesão com o texto merecem atenção do repórter para não competirem com a informação que deseja ser passada.

Detalhes podem derrubar uma informação

A iluminação também deve ser uma preocupação. Muitas vezes, as equipes de jornalismo, principalmente as do interior, não possuem um iluminador ou uma abrangência significativa na qualidade de equipamentos. Assim, os profissionais devem dar preferência a ambientes com boa iluminação e qualidade natural de imagem para que, no televisor e na geração das imagens, a narrativa não saia prejudicada.

Por fim, mas não menos importante, a composição do ambiente. O telejornalista precisa ter a ciência de que tudo que é dito e, principalmente, tudo que aparece em imagem no vídeo é captado por algum telespectador mais atento. Nada foge da imagem daqueles que buscam a informação. Assim, em um ambiente aberto, na rua, por exemplo, o telejornalista precisa (aí a parceria com o repórter cinematográfico é extremamente importante) ter cuidado redobrado com as informações do ambiente. Vamos explicar: suponhamos que o repórter esteja no centro de uma cidade, com muitas lojas, população transitando e o tema tratado requer extrema seriedade. Ficaria, no mínimo constrangedor, que houvesse, ao fundo (mesmo que de forma discreta) uma placa de anúncio de uma loja sex shop. Ou então, o tema sendo tratado seja de religião e ao fundo aparecesse uma placa de anúncio de uma cartomante. Coesão e cuidado precisam ser detalhes básicos.

É preciso, então, que o profissional tenha em mente que montar uma passagem de telejornalismo vai muito além de pensar qual a informação será feita ou como ela será transmitida. É necessário atenção para todos os seus componentes. Bom senso e atenção devem ser uma constante na rotina destes profissionais. Afinal, muitos são os artifícios para montar uma boa matéria, mas inúmeros são os detalhes que podem derrubar uma informação.

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[Aurélio de Freitas é jornalista, Juiz de Fora, MG]