Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

“‘A própria definição do que é jornalismo, para que serve o jornalismo em uma sociedade democrática, já é objetivo de disputa política, de disputa ideológica’ (Leonel Aguiare, mestre em Comunicação)

O personagem ‘Coalhada’ foi criado pelo humorista Chico Anysio na década de 80. Ele retrata um jogador de futebol estrábico que se considera um craque e fala demasiadamente errado. Uma ilustração de quatro colunas desse personagem acompanhou a matéria ‘Zero pra eles!’ publicada em Esportes na última quinta-feira (18) e que comentou os erros gramaticais cometidos pelos jogadores na rede social Twitter. A pauta foi capa do caderno esportivo (Ô vergonha!) com chamada na capa do jornal ( Eles só entram de sola na canela da gramática).

O leitor Luciano Alencar qualificou o texto como ‘ridículo’ por ironizar os jogadores que ‘não tiveram chance de estudar enquanto o próprio jornal apresenta grande quantidade de erros’. E lançou a pergunta: ‘O que é mais vergonhoso: um atleta que não frequentou a escola trocar uma letra por outra ou jornalistas, que vivem de escrever, tropeçarem todos os dias (na gramática)?’ A pauta causou também um polêmico debate na avaliação interna. Para muitos houve um tom de deboche, de certo preconceito. Outros elogiaram irreverência. No O POVO Online o leitor Victor Hugo aconselhou que a ‘impressa (sic) devia olhar o próprio umbigo’. Já Antônio José diz ver ‘erros gritantes vindos de classes mais favorecidas’.

Pois bem. Há uma diferença entre a língua culta e a coloquial. Exigir perfeição linguística de uma plataforma como as redes sociais parece-me um exagero. Obviamente que um ‘corajen(sic)’ verificado no twitter do zagueiro Gilmak, do Fortaleza, choca e afeta a imagem dele. A matéria aborda este aspecto em coordenadas com o técnico Mano Menezes e com especialista em marketing. Mas as redes sociais permitem essa irreverência.

@preconceito

Esses erros não são exclusivos de jogadores. É fácil encontrar coisas do tipo em mensagens de políticos, médicos, advogado e jornalistas. Para o editor-adjunto de Cotidiano, Rafael Luis, a influência dos atletas entre os jovens justifica a pauta. ‘Jogadores de futebol são exemplos para muitos jovens. Você gostaria que outros passassem a escrever como Léo Moura, já que ele tem esse ‘direito’ por ser um coitadinho?’

A matéria peca em usar o clichê que todo jogador fala errado. Uma abordagem que passa certo preconceito como na frase: ‘Não são só os jogadores de times menores que cometem erros grotescos’. E o que diriam Tostão e Sérgio Redes, ex-jogadores e colunistas esportivos do O POVO. ‘Reconheço que houve excessos, ideias pré-concebidas, mas não foi um deboche, e sim uma discussão’, afirmou Rafael. O tom jocoso, inclusive com o uso do Coalhada, invariavelmente levou a uma comparação com o profissional de imprensa, este sim com a missão de dominar a língua portuguesa.

E nesse ponto sobram críticas. Os erros gramaticais nos jornais se repetem. Quase diariamente leitores ligam para o ombudsman reclamando de falhas de digitação, concordância ou de ortografia. E isso não irá acabar. O objetivo é diminuí-los. Quem tem telhado de vidro que se cuide.

Efeito dominó

Na terça-feira (16) o jornal abriu manchete com ‘População de rua cresce seis vezes em três anos’. A afirmação, preocupante, usou como base levantamento feito junto a Prefeitura de Fortaleza e abriu série sobre drama dos moradores de rua da Capital. Uma boa análise de um dos piores dramas do ser humano: a falta de um lar. O problema é que a manchete estava errada. Não há números reais para tal afirmativa. Isso era fácil ser percebido. Logo no início o texto informa que, em 2008, 235 adultos eram acompanhados pelos serviços oferecidos à população de rua, número ampliado para 1.688 em três anos. Ora, o que cresceu foram os atendimentos. Esse era o único dado concreto. Não há pesquisas recentes. Uma leitura mais atenta da repórter e, em seguida, dos editores responsáveis teria evitado o efeito dominó do erro. A correção veio dois dias depois em uma confissão pública da repórter Gabriela Menezes, autora da matéria: ‘Jornalista também erra’. ‘E, quando isso acontece, o leitor deve ser informado e o erro tem de ser reparado. Pelo menos aqui no O POVO é assim’, completou a editora-executiva de Cotidiano, Tânia Alves.

Esquecido pela mídia: Acúmulo de processos relacionados com crimes contra a vida esperando solução. Em dezembro eram 2.835.

FOMOS BEM

DIA DOS PAIS

Interatividade jornal e O POVO Online garantiu cobertura diferenciada.

FOMOS MAL

BEIRA MAR

Faltou agilidade para detalhar projeto de reforma de revitalização que foi antecipado na coluna Vertical”