As eleições brasileiras nos Estados Unidos foram destaque nos principais jornais norte-americanos quando milhares de brasileiros votaram para presidente da República, no domingo (3/10), no maior colégio eleitoral brasileiro no exterior e cujo reduto mais expressivo é Nova York, com mais de 20 mil eleitores.
Além de noticiar que a presidência será definida em segundo turno, por não ter sido alcançada a percentagem necessária de votos válidos para a decisão, tanto The Washington Post quanto o New York Times deram ênfase à candidatura de Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores), que, se eleita, irá juntar-se a uma onda de líderes femininas que quebraram a barreira de gênero nos últimos cinco anos – incluindo Michelle Bachellet, do Chile, Cristina Fernández de Kirchner, da Argentina e a chanceler Angela Merkel, da Alemanha (esqueceram de citar a presidenta da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, a primeira mulher democraticamente eleita a assumir a chefia de um país africano, em 2006).
The Boston Globe deu na primeira página, com foto, a corrida para a votação, destacando Dilma como possivelmente ‘a primeira mulher presidente no Brasil’ e o seu currículo de esquerda, como ‘uma candidata ativista que vem da luta armada, presa e torturada durante os anos 70’. The Boston Globe também faz a cobertura do movimento na Framingham High School, em Massachussets, uma das oito zonas eleitorais pré-estabelecidas em território norte-americano para receber os votantes brasileiros. Atualmente vivem em Massachussetts 336.000 brasileiros e em torno de 1,4 milhão residem nos Estados Unidos, incluindo os sem documentos – isto é, sem visto legal de residência e, portanto, impedidos de votar.
Candidaturas negras inexpressivas
A imprensa brasileira nos Estados Unidos se manifestou sobre as eleições presidenciais de forma diversa; como os jornais brasileiros geralmente são semanais ou quinzenais, a cobertura das eleições aqui ainda não foi divulgada. O Brazilian Press enfatizou a queda de seis milhões de votos de Dilma Rousseff (nove em favor de Marina Silva) nas duas semanas anteriores ao primeiro turno das eleições, vinda exatamente da camada da população mais pobre e que mais se beneficiou com as políticas sociais do governo Lula. The Brazilian Times conservou a sua linha imparcial, resumindo-se a orientar os eleitores a votar. The Brazilian fez link com matéria do jornal Estado de S. Paulo sobre o voto religioso e a posição de Dilma Rousseff a favor da vida.
The Economist – semanário britânico mas com mais de 50% da sua circulação na América (leia-se Estados Unidos) – correlacionou as políticas sociais do presidente Lula e o favoritismo da eleição para Dilma Rousseff como sua sucessora por conta do voto obrigatório e a grande massa de votantes habitantes das áreas rurais pobres, ‘o que significa que eles também tendem a apoiar o PT’. E deu ênfase ao crescimento de Marina Silva (Partido Verde) como fenômeno que provocou a nova disputa em segundo turno em 31 de outubro. Marina estaria se tornando ‘moda’ e sua história de vida seria ‘a mais próxima de todos os candidatos para o Lula Santo’. Com um olho no futuro, The Economist observa ainda que Lula também perdeu três vezes antes de finalmente ser eleito.
Não há comentários relevantes sobre o candidato José Serra, da coligação centro-direita (PSDB-DEM/PTB/PPS/PMN/PT do B) pela imprensa norte-americana. E, embora o Brasil seja um país com uma maioria de população negra (estimativas estão em torno de 51%), com as ações afirmativas fazendo parte da política do governo Lula, com avanços etno-sociais em dez anos jamais vistos desde a assinatura da Lei Áurea em 1888, e o governo brasileiro empenhado num plano de ação conjunta com os Estados Unidos para a eliminação da discriminação étnico-racial, as candidaturas negras ou a abordagem das relações raciais ainda não superada no país em programas de candidatos, são inexistentes.
******
Jornalista e editora-geral da Alaionline