Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Patacoadas na terra dos faraós

Na terça-feira (19/10), na seção de fotos do site UOL, encontrei uma matéria que me deixou estarrecido. Não por seu conteúdo, mas pela quantidade de erros cometidos em tão pouco espaço. A matéria narra a recente descoberta da tumba de um sacerdote da 5ª dinastia egípcia, próximo às pirâmides de Gizé. Ela está organizada em uma sequência de fotos com legendas explicativas. Simples assim, sem muito espaço para erros ou trapalhadas. Será?


A legenda da primeira foto já é um festival de esquisitices. Os itálicos a seguir são meus para melhor destacá-las. O texto diz:




Suprema Corte de Antiguidades do Egito mostrou uma pintura de mural dentro de uma tumba recém descoberta de um padre que conduzia rituais de reza pela morte do faraó há mais de 4.000 anos, perto das pirâmides de Giza, no sul do Cairo.’


Vamos às considerações:


** Suprema Corte de Antiguidades é como o redator traduziu a expressão Supreme Council of Antiquities, que certamente ficaria melhor como Conselho Supremo de Antiguidades (ou algo assim). Esse erro se repete em mais duas fotos.


** Havia padres no Egito antigo, há 4.000 anos? Certamente que não. O dono da tumba era, isto sim, um sacerdote. Esse erro se repete mais uma vez, mas em outras cinco fotos ele é corretamente chamado de sacerdote.


** Pirâmides de Giza? Em que língua ele está escrevendo? Em bom português, elas se chamam Pirâmides de Gizé. Esse erro se repete em mais cinco fotos.


** E para completar, recém-descoberta se escreve com hífen. A grafia sem hífen também se repete em outras três fotos.


Erros são imperdoáveis


A partir da quinta foto, um novo desrespeito ao nosso idioma. Segue o texto:


Fresco mostra um barco no rio Nilo no interior da tumba de mais de 4.000 anos’


** Quem é esse fresco que mostra um barco? Em alguns países (inclusive em Portugal) a expressão estaria correta, mas em português do Brasil a técnica se chama afresco. Esse erro se repete em mais uma imagem.


Na última foto, mais uma incongruência:


‘Entrada do templo recém descoberto que data da Quinta Dinastia de 2.514 a 2.374 a.C’


** Templo? Mas o que foi encontrado não é uma tumba? Ela virou templo?


Não é nenhuma novidade a gente encontrar um jornalista que não tenha o mínimo indispensável de base cultural para o exercício da profissão. Eles estão por aí desde sempre, mas isso não se justifica. Ainda mais hoje em dia, quando é facílimo se checar uma informação na internet. Isso mostra que o redator dessas legendas simplesmente não fez o seu dever de casa. Juntando-se a isso erros ortográficos e incongruências de terminologia, só nos resta lamentar a maneira como está sendo exercida a profissão de jornalista em um grande site como o UOL. Pois, que um redator escreva aqui e ali algumas besteiras, a gente até entende, mas que um editor deixe passar e as publique, isso é imperdoável.

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Designer gráfico e professor, Rio de Janeiro, RJ