Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Abril lança duas novas revistas

A partir de setembro, a Editora Abril colocou nas bancas dois novos títulos. A revista masculina Alfa Homem saiu primeiro e, em outubro, foi lançada a feminina Lola Magazine. São periódicos destinados ao ‘andar de cima’ (classificação by Elio Gaspari); o preço de capa de ambas é 10 reais. Ao menos em Salvador, quase não houve divulgação desses produtos vistosos (policromia) e alentados (quase 200 páginas). Registre-se, pois, a autoconfiança da empresa da família Civita que prossegue, sem alarido, crescendo apesar dos ventos em contrário que sopram ameaçadores a cada nova edição do semanário Veja.

A publicação de Alfa Homem e Lola Magazine surpreende por causa dos muitos títulos de periódicos que a Abril já destina aos públicos masculino e feminino adultos. Por que constituir novas equipes, predominantemente de jovens profissionais, para ampliar a oferta de títulos que parecem semelhantes aos existentes? A Editora Abril, nos editoriais de Lola, assinado pela diretora de redação Angélica Santa Cruz, e de Alfa, assinado pelo diretor de redação Kiko Nogueira, advoga que os novos títulos são diferentes e atualizados porque se dirigem ao novo homem e à nova mulher brasileira – suponho, das classes A e B.

Alfa revela a preocupação com a identidade desse homem brasileiro, como o advertindo a conviver com o perfil que os últimos 30 a 40 anos lhe impõem devido à emancipação da mulher. Nogueira, no editorial, promete: ‘Não faremos autoajuda nem pretendemos dizer a você como ser homem. Mas se nossas reportagens forem tema de suas conversas e você confiar em nós, já temos aí um excelente começo.’

Os homenageados na estreia

Lola age de modo semelhante e pede às mulheres que sejam mais tolerantes com os homens, pois a revista, já no seu primeiro número, identifica que seu público feminino específico está muito ocupado para pensar… em homem. Ele – o público específico – tem mais o que fazer! Conforme o editorial de Angélica Santa Cruz, esse público ‘já encontrou príncipes encantados e sabe que nenhum tem o poder de salvá-la – portanto, adora os homens, com todas as suas forças e fraquezas. (…) E o principal: sabe que rir, inclusive de si mesma, é o grande acontecimento’.

Lola e Alfa não insuflam a guerra dos sexos, mas identificam que, no seu segmento, o homem e a mulher podem disputar palmo a palmo o pedestal do sucesso – prestígio, poder, posse, perfeição corporal e prazer imediato. Daí, os homenageados na estreia dos dois novos títulos: Galvão Bueno, o maior salário entre os jornalistas de televisão, na capa de Alfa; e Angelina Jolie, cujo perfil de Marcelos Bernardes empurra novos fãs para ela, na capa de Lola.

Que sigam adiante

Há mais um aspecto auspicioso nesses novos títulos da Abril. Lola Magazine e Alfa Homem são projetos editoriais concebidos nas entranhas da indústria cultural brasileira, ao contrário de outras revistas masculinas – por exemplo, Playboy – e femininas – tais como Elle, Cosmopolitan e outras – em cujos territórios grassam títulos e modelos importados. Bem-vinda a lembrança de Victor Civita, o criador da Abril, um revisteiro insuperável, que tocou para diante os projetos de Cláudia, Quatro Rodas, Realidade e tantas outros.

Se Lola Magazine e Alfa Homem têm semelhanças que as tornam equivalentes, há, no entanto, na capa da revista masculina o indicativo de sua masculina prevalência. O título é Alfa, nome da primeira letra do alfabeto grego. O Alfa acompanhado de Homem sugere a sua capacidade de reprodutividade, a indicar que teremos Alfa disso, Alfa daquilo e assim por diante.

Enfim, que Lola e Alfa sigam adiante, quiçá de mãos dadas e que nenhuma delas se permita aplicar uma rasteira na outra.

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Jornalista, produtor editorial e professor universitário, Salvador, BA