Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cobertura burocrática

A repentina morte do ex-presidente argentino Nestor Kirchner, na quarta-feira (27/10), comprovou que apesar da proximidade geográfica e do intenso intercâmbio turístico nossa imprensa não consegue oferecer uma cobertura satisfatória sobre o que ocorre no país vizinho.


Envolvida pelo julgamento da Lei da Ficha Limpa e pelos lances finais da disputa presidencial, nossa mídia não achou importante registrar que no dia da morte do homem forte do atual governo de Cristina Kirchner os argentinos estavam trancados em suas casas porque era o dia do recenseamento nacional – e só deveriam sair de depois das 8 da noite, quando os 650 mil recenseadores terminassem as suas tarefas.


O censo de 2010 foi intensamente politizado e dramatizado – aliás, como tudo na Argentina – porque, com ele, o governo pretendia reabilitar o INDEC, o instituto equivalente ao nosso IBGE, cujos dados sobre economia e inflação têm sido muito contestados.


Falta de hábito


Nestor Kirchner, além do poder que exercia no governo da mulher, preparava-se para sucedê-la no pleito de outubro de 2011, quando os dados do censo ficariam prontos. Agora, a viúva não terá outra alternativa senão jogar-se sozinha na campanha pelo segundo mandato, com ou sem estatísticas confiáveis.


A nova tragédia que enluta a cena política argentina e entristece todos os que admiram a sua cultura traz consigo uma advertência: roteiros e cronogramas não são infalíveis, o destino e os fados não gostam de ficar em plano secundário.


Na quarta-feira (27), o diário Valor publicou extensa matéria (pág. A-16) sobre o recenseamento argentino, mas os redatores das nossas editorias internacionais não têm tempo nem o saudável hábito de ler as páginas de economia dos concorrentes.