É possível travar uma batalha que se sabe perdida sem alimentar a falsa esperança de vencê-la, mas sem se deixar abater previamente?
E também sem abdicar do bom humor nem mesmo quando para expressá-lo era demasiado o sacrifício?
Em tais circunstâncias que preço foi pago para manter intacta a preocupação com a saúde, o trabalho e ao mesmo tempo com seus semelhantes?
Rodolfo Fernandes, diretor de Redação de O Globo, a quem conheci quando tinha apenas 23 anos, recusou-se a morrer de véspera.
Nos últimos meses, já sem voz nem movimentos, valeu-se de um programa de computador para comandar O Globo somente com os olhos.
Seguramente, essa foi a mais valente, significativa e inesquecível lição de vida que deu aos que tiveram o privilégio de trabalhar e de conviver com ele.
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[Ricardo Noblat é jornalista]