A busca por um modelo de negócios que permita reduzir a dependência da publicidade e, ao mesmo tempo, consiga gerar receitas em meio aos novos hábitos de consumo da informação, especialmente com a influência da internet, foi o principal tema em debate ontem (29/8), durante o VIII Seminário Nacional de Circulação da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), realizado em São Paulo.
Como pano de fundo para esse cenário, uma pesquisa da agência ZenithOptimedia aponta que o investimento publicitário global nos jornais deve cair 1,4% ao ano até 2013, passando de US$ 95,2 bilhões em 2010 para US$ 91,2 bilhões. Para a internet, a projeção é de avanço dos atuais US$ 63 bilhões para US$ 94,5 bilhões no período.
A necessidade de cobrar pelo conteúdo produzido para as mídias digitais foi um consenso entre os participantes do evento. As estratégias nessa direção poderão ser implantadas em curto prazo, disse Marcello Moraes, diretor-geral da Infoglobo, empresa que edita o jornal O Globo. “Não podemos mais perder tempo. É preciso testar novos modelos e formatos e, se não der certo, ajustar, fazer de outra maneira. A tentativa e o erro são próprios da internet”, afirmou.
“Nada substitui um conteúdo de qualidade”
Para Moraes, a despeito das incertezas que ainda permanecem sobre o modelo a ser adotado, a cobrança do conteúdo nas mídias digitais passa necessariamente pela abordagem diferenciada das notícias. “O chamado hard news [notícias factuais] é commodity e deve permanecer aberto. Por outro lado, não podemos abrir mão de cobrar pelo conteúdo mais aprofundado e entregar isso gratuitamente pela internet, até porque não fazemos isso no papel”, afirmou.
Walter de Mattos Junior, diretor-presidente e editor do Grupo Lance! e vice-presidente da ANJ, reforçou o caráter de urgência na necessidade de encontrar formas de gerar receitas com os conteúdos tratados sob uma ótica mais analítica e contextual. “A cada dia que entregamos nossa principal mercadoria de graça estamos reforçando a ideia de que tudo é gratuito no mundo digital”, afirmou.
Na mesma direção, Eduardo Sirotsky Melzer, vice-presidente-executivo do Grupo RBS, ressaltou a necessidade de estabelecer um valor para esse tipo de material, até mesmo para diferenciá-lo do grande volume de conteúdos produzidos na internet: “Nada substitui um conteúdo de qualidade. Essa é a nossa força.”
Jornal impresso e mídias digitais
Embora tenha destacado os desafios que o setor tem pela frente, Antônio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha, disse estar otimista. “As mídias digitais nos permitem entrar em novos mercados e a credibilidade conquistada pelos jornais abre caminho para que essa transição seja bem-sucedida”, opinou. Ao mesmo tempo, Mendes citou uma particularidade que indica um cenário ainda promissor para o jornal impresso no mercado brasileiro. “Enquanto a demanda por papel jornal caiu 53% nos últimos dez anos nos Estados Unidos, esse índice permaneceu estável na América Latina e no mercado brasileiro. As perspectivas são boas em médio prazo”, afirmou.
Outra vantagem do mercado local é apontada por Moraes. Ele explica que a tendência global de queda da participação do meio jornal no bolo publicitário tem sido amenizada no Brasil com o aumento do investimento total em propaganda no país, puxado pela televisão. “Esse panorama dá um pouco mais de fôlego para a transição. Em outros países, pelo contrário, muitos jornais tiveram que adotar estratégias no desespero”, disse o diretor da Infoglobo.
Silvio Genesini, diretor-presidente do Grupo Estado, acrescentou que o melhor caminho para os próximos anos é alcançar um equilíbrio entre o aumento da receita de circulação no jornal impresso e a ampliação do faturamento nas mídias digitais: “É uma combinação clara, mas difícil de ser feita.”
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[Moacir Drska, da Redação de Valor Econômico]