Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A imparcialidade possível e desejável

Nos últimos dias, tive a oportunidade de acompanhar algumas das principais publicações editoriais do país. Como era de se esperar, o tema das eleições presidenciais ocupa a maior parte do espaço editorial dos informativos e permeia quase todas as editorias. Chamou-me atenção o fato de que em todos esses veículos é nítida a tendência de manifestação a favor de um ou outro candidato. Algumas das publicações repetiram o feito das eleições passadas e decidiram explicitar suas predileções políticas, para que não restasse dúvida ao leitor sobre sua escolha partidária, prática elogiada pelos profissionais de mídia, que, em geral, não acreditam na famosa imparcialidade jornalística e acham mais honesto que os veículos assumam suas posições, em lugar de ficarem escondidos sob o manto de uma falsa isenção.

Aliás, um dos assuntos mais controversos nos bancos das escolas de Jornalismo é justamente a questão da possibilidade de os veículos de comunicação agirem de forma imparcial. Salvo engano, a posição que mais vigora no meio acadêmico é a de que a imparcialidade é impossível de ser atingida, uma vez que jornalistas são seres humanos e é inerente a essa condição a adoção de um posicionamento a respeito de um determinado assunto.

Interesse do leitor

Em parte, concordo com essa tese. É, de fato, muito difícil para um jornalista transmitir uma notícia sem que ela lhe tenha despertado qualquer emoção, como raiva, revolta ou tristeza. E é claro que esse sentimento surtirá alguma influência na produção desse profissional. Porém, se ao jornalista o adjetivo imparcial dificilmente se aplica, aos jornais essa característica pode e deve ser buscada.

O que ocorre atualmente é que as principais publicações brasileiras têm se valido da tese de que a imparcialidade é inatingível para voltarem ao jornalismo panfletário do período colonial. Naquele período, ainda não havia a noção de jornalismo empresarial, onde o interesse do leitor (consumidor) deveria prevalecer sobre o do emissor. O jornalismo ali era apenas um simples espaço para debate de ideias. Não havia compromisso com o leitor porque não se pretendia uma atividade mercantilista.

O espaço de ideias a que me refiro da época do jornalismo do século 19 pode encontrar lugar hoje na internet, porém não deve ser transposto para os grandes veículos de comunicação. Nessas empresas, o interesse do leitor deve ser mais valorizado que a simples opinião do dono do jornal ou de alguns jornalistas. O jornal não está sendo honesto com o leitor simplesmente porque expressa o nome do candidato de sua preferência e manipula para que as notícias lhes sejam favoráveis, demitindo, inclusive, articulistas que expressam uma leve discordância da opinião oficial do jornal. Nesse caso, seria mais honesto se não cobrasse do leitor o preço daquela publicação. Ou da assinatura.

Jornais precisam se profissionalizar

Não se critica aqui o posicionamento exposto em um editorial, mas sim, de todos os textos do jornal, inclusive as notícias, terem o mesmo viés político. Afinal, não é possível que em uma redação, com pelo menos 20 profissionais, todos comunguem de uma mesma opinião. E, se assim for, caracteriza-se uma afronta a um jornalismo de qualidade porque os leitores têm o direito de ter acesso a diferentes opiniões em um mesmo jornal, mesmo que não concorde com algumas delas. E, acima de tudo, esses leitores têm o direito de ver publicadas notícias positivas e negativas sobre qualquer governo, partido político ou instituição.

É possível que esse seja um dos sintomas da crise que o jornalismo vive atualmente, agravada pelo advento da internet. Mais do que nunca, os jornais precisam se profissionalizar, tendo como foco a qualidade do produto oferecido ao consumidor. Porque, se for para, simplesmente, fazer campanha contra ou a favor um determinado assunto, partido ou governo, o leitor não sentirá a necessidade de pagar por isso. Ele pode simplesmente se valer dos textos que lhe vêm por e-mail ou em sites de sua preferência, todos, em certa medida, de graça.

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Jornalista e economiária, Brasília, DF