Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O pior cego é o que não quer ver

A revista Scientific American de agosto publicou o artigo “A fascinante evolução do olho”. Segundo o autor, Trevor D. Lamb, o olho humano é um órgão “extremamente complexo; atua como uma câmera, coletando, focando luz e convertendo a luz em um sinal elétrico traduzido em imagens pelo cérebro. Mas, em vez de um filme fotográfico, o que existe aqui é uma retina altamente especializada que detecta e processa os sinais usando dezenas de tipos de neurônios. O olho humano é tão complexo que sua origem provoca discussão entre criacionistas e defensores do desenho inteligente, que o têm como exemplo básico do que chamam de complexidade irredutível: um sistema que não funciona na ausência de quaisquer de seus componentes e, portanto, não poderia ter evoluído naturalmente de uma forma mais primitiva”.

Apesar de destacar a complexidade do órgão, Lamb adverte que “o olho, longe de ser uma peça de maquinaria criada à perfeição, exibe falhas evidentes – `cicatrizes´ da evolução”. Na verdade, muitas dessas “falhas” oculares já foram descartadas – confiraaqui. Além disso, se se partir da cosmovisão criacionista, eventuais defeitos no olho são fruto da “involução”, não resquícios da seleção natural. Criacionistas não esperam mesmo que a natureza em seu estado atual seja perfeita.

Lamb menciona também a explosão cambriana “que deixou sua famosa marca nos registros fósseis de 540 a 490 milhões de anos atrás”, segundo a cronologia evolucionista. “Essa explosão evolutiva lançou a base para a origem de nossos tão complexos olhos”, diz ele. Mas o que nenhum darwinista se atreve a explicar é como a vida pôde, de repente, evoluir de seres “simples” de corpo mole para animais complexos com exoesqueleto segmentado e olhos de calcita, como no caso do trilobita, que simplesmente aparece no registro fóssil, logo acima do período pré-cambriano.

Acréscimo de informação complexa e específica

Lamb diz ter observado que muitas características marcantes do olho dos vertebrados também ocorrem em todos os representantes atuais de um “ramo principal da árvore dos vertebrados: a dos vertebrados mandibulados”. Para ele, esse padrão sugere que os vertebrados com mandíbulas herdaram os caracteres de um ancestral comum e que “nosso olho já evoluíra por volta de 420 milhões de anos”. O que dizer, então, do olho humano em comparação com o das lulas? Esses olhos são muito parecidos, mas ninguém sugere ancestralidade próxima entre homens e lulas… Essas semelhanças seriam evidência de ancestralidade evolutiva ou a assinatura do Designer? A resposta depende da visão filosófica, não da ciência experimental.

Além disso, é bom destacar outro aspecto relacionado com a teoria da macroevolução: quando avançam no tempo passado, pelos supostos milhões de anos, o que os cientistas percebem é complexidade comparável à da vida atual – às vezes até maior. Segundo esse artigo de Lamb, há supostos 500 milhões de anos, o olho era tão complexo quanto seu correspondente atual. Como isso se explica?

O artigo diz mais: “Tomando o exemplo dos peixes cegos em cavernas, sabemos que os olhos podem sofrer degeneração significativa e até mesmo podem ser perdidos completamente em menos de dez mil anos.” Aqui, criacionistas podem concordar com os evolucionistas: de fato, o que se percebe na natureza é degeneração e perda de informação genética. Isso pode ser verificado experimentalmente, pois ocorre em tempo relativamente curto. O contrário é que não ocorre: acréscimo de informação genética, isso porque, para o “surgimento” de novos órgãos funcionais e planos corporais, seria necessário o acréscimo de muita informação complexa e específica. Imagine quanta informação seria necessária para o “surgimento” do olho…

A filosofia das conclusões das pesquisas

“Talvez, o olho ancestral dos protovertebrados que viveram entre 550 milhões ou 500 milhões de anos [sic] primeiro serviu como um órgão não visual, e só mais tarde o poder de processamento neural e os componentes ópticos e motores necessários para a visão espacial evoluíram”, especula Lamb. Veja a “lógica”: os cientistas evolucionistas estudam um olho degenerado contemporâneo dos olhos “evoluídos” e supõem que esse olho mais “simples” seria o equivalente dos primeiros olhos! Primeiro admitem que esse olho degenerado perdeu capacidades e funções, depois o encaixam no cenário evolutivo para dizer que, no passado inobservável, esse tipo de olho, na verdade, não teria perdido, mas ganhado! Além disso, note como o articulista resolve facilmente a questão da suposta ausência, nos supostos ancestrais, de neurônios especializados, componentes ópticos e motores necessários para a visão: tudo isso simplesmente evoluiu!

Falando ainda sobre a evolução do olho dos vertebrados, Lamb admite: “Não sabemos exatamente quando aconteceu, mas em 1994, cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, mostraram que os componentes ópticos do olho podem ter evoluído facilmente (!) em um milhão de anos.” (A exclamação e o grifo são meus.)

Digna de admiração é a pesquisa empreendida pelo autor do artigo e seus pares. Ninguém, em são juízo, desprezaria isso. Graças a cientistas como esses é que nosso conhecimento da maravilha chamada visão tem aumentado consideravelmente. O problema é a filosofia que orienta as conclusões das pesquisas. Mais do que explicar a evolução do olho, o texto exalta sua complexidade.

Levante a mão quem acha que esse texto explicou a evolução do olho? Se você levantou, creio que deve considerar seriamente a necessidade de usar óculos.

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[Michelson Borges é jornalista e mestre em teologia]