O favoritismo é uma ameaça ao bom jornalismo. Eleições ou partidas de futebol em que há um vencedor quase certo tendem a ser apresentadas numa péssima matéria. Pela obviedade do que fora escrito antes mesmo de se oficializar a vitória ou pelo tempo limitado de se escrever diante de um surpreendente ganhador. Mas o caderno de Política do Globo da quarta-feira (31/8) foge à regra.
À espera do perdão a Jaqueline Roriz, o jornal foi além da factual votação na Câmara. Preparou-se como recomendam as escolas de jornalismo: tornando-se mais uma revista do que um difusor de hard news. Aprontaram um caderno sobre uma morte iminente. Um banco de funério cuja vítima é a política. Em outras palavras, parafraseando Gabriel García Márquez, fizeram a crônica de uma morte anunciada.
O texto de capa sinaliza os motivos responsáveis pela absolvição e os desdobra em matérias complementares, além de na sensata coluna de Merval Pereira. O principal deles, o voto secreto, é contextualizado: assim o é porque ainda tramita nas esferas lentas da Justiça. Até a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa volta a ser questionada diante da resposta dos deputados. Desta vez, sem um ranço antipetista. Sem abrandar as críticas ao DEM, braço fisiológico do PSDB, a quem tanto admira e ainda nega.
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[Gabriel Góes Barreira é estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ]