Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia precisa ser regulada? Por quem?

A mídia é acusada com frequência de exagerar nas denúncias e notícias ruins para ganhar leitores, ouvintes, telespectadores. E que, por isso, é preciso submetê-la a limites.

Mas se o distinto público compra jornais e revistas que trazem “as más notícias”, ouve programas de rádio e assiste a programas de televisão abaixo dos critérios que os reguladores defendem, limitar a mídia seria atentar contra a liberdade de escolha dos cidadãos. Eles ouvem, veem e leem o que querem.

É verdade que temos crianças e adolescentes diante da televisão – a TV é o grande alvo dos reguladores – e é preciso protegê-los. Neste caso, quando aparecem certas personalidades defendendo a regulação da mídia, convém retirar os pequerruchos ou galalaus da sala. Os defensores da regulação da mídia têm prontuários que assustam mais do que a Cuca, o Lobo Mau, o Lobisomem e outras personagens do imaginário popular.

Tema recorrente

Vejamos o cenário da semana passada. O que deve fazer a mídia quando um político como Paulo Maluf faz uma festa de aniversário? Ele acabou de completar 80 anos, já passou uma temporada na prisão com o próprio filho, está com os bens bloqueados no Brasil e com a prisão decretada nos EUA e em mais seis países. A seu aniversário compareceram destacadas personalidades, inclusive Michel Temer, vice-presidente da República.

Também na semana passada, o ex-ministro do Gabinete Civil, o deputado cassado José Dirceu, réu em rumoroso processo que corre no STF e que começa a ser julgado no primeiro semestre do ano que vem, denunciado por ninguém menos do que o procurador geral da República como “chefe de uma organização criminosa” instalada no primeiro governo Lula, apareceu todo lampeiro entre o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff, às gargalhadas, depois que a revista Veja documentou, inclusive com fotos, que ele despacha como se ministro fosse ou continuasse a ser, num hotel em Brasília, recebendo altas autoridades da República.

Mas, ainda assim, na semana passada voltou – sempre volta – um tema que a todos desarruma: a regulação da mídia.

Tudo dominado

Regular a mídia é como controlar o mensageiro das más notícias. Se apenas boas novas fossem proclamadas, a questão de impor limites à mídia não estaria em pauta. Afinal, de elogio ninguém reclama. Quando propõem regular a mídia e seus domínios conexos, de que a propaganda, explícita ou implícita é sua face mais visível – afinal, as notícias são impressas no verso de anúncios e rádio e televisão sem patrocínio, comercial ou público, não poderiam noticiar nada – estão pensando em proteger “a base alugada” e “os bandidos de estimação”, como diz o jornalista Augusto Nunes.

Quem propõe regulação, o que quer é que tudo esteja dominado. Parece que por enquanto a mídia, o quarto poder, ainda não está dominada.

Parodiando os versos que Sérgio Bittencourt fez para homenagear seu pai, Jacó do Bandolim, “naquela mesa tá faltando ela e a saudade dela tá doendo neles”.

Sabem que é ela? A censura.

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[Deonísio da Silva é escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor e um dos vice-reitores da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa)]