A face entediante de William ‘Simpson’ Bonner na noite do domingo (31/10), não dissimulou seu descontentamento e frustração com o resultado das eleições. Mesmo seus parceiros de bancada notaram, e não só se esforçaram para parecerem ‘profissionais’ como tiveram de segurar a onda de um Bonner totalmente ‘borocochô’, que teria feito melhor se ficasse em casa.
Mas a cara de Bonner é a cara das Organizações Globo e do resto da grande (?) mídia que se alinhou a José Serra numa campanha que fez o Fernando Collor de 1989 parecer uma criança inocente. Bonner tinha a face de todos os jornalistas que obedeceram cegamente a seus superiores na trajetória do golpe que não houve. É provável que a frustração tenha sido de véspera, posto que, nas aparências, a grande (?) mídia abortou (sem trocadihos) o golpe ainda na sexta, na capa de folhetim da Veja, ou na não edição do debate da Globo no sábado (30). Ao contrário do Índio da Costa, a grande (?) mídia sabia que, desta vez, os institutos de pesquisa não erravam e, afinal, a diferença média de 12 pontos percentuais se confirmou. A grande (?) mídia encolheu-se, mas não está morta.
O próximo alvo já se anunciou há coisa de duas semanas, nos ataques maciços às propostas iniciais de criação dos Conselhos de Comunicação nos estados. Sob a pecha de ‘censura’ e ‘controle’, pululam protestos e manifestos contra os conselhos, sem, entretanto, que se apresentem propostas e alternativas. Ora, ‘censura’ também é a omissão dos media diante de escândalos dos tucanos no processo eleitoral, ou a negação de espaço em emissoras de rádio e TV de todo o país aos movimentos populares e sindicais.
Ainda que a proposta dos conselhos contenha equívocos (o que não concordo), a concentração, no modelo atual, não pode prosseguir. Pois exclui dos meios de comunicação de massa parcelas consideráveis da dita sociedade civil organizada, elege (também sem trocadilhos) seus porta-vozes eleitorais e discrimina muitos profissionais que se entrincheiram com dignidade na grande (?) mídia (e relembro a vaia na redação paulista do JN).
No mínimo, cabe à Associação Nacional de Jornais (ANJ) e à Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) apresentarem propostas de democratização interna, das redações e das edições, esvaziando o poder decisório dos diretores, reaproximando a abordagem jornalística do cotidiano real do país.
Portugal tem um modelo interessante nesse sentido. Seria conveniente estudá-lo, pois se não coíbem abusos no todo, abre espaço ao contraditório e à lucidez do ‘bom’ jornalismo, inclusive não proibindo que um veículo repercuta assunto levantado por outro, como acusou a CartaCapital quando da não repercussão, na concorrência, da quebra de sigilo promovida por Verônica Serra anos atrás.
Parafraseando José Serra, ‘um novo país está nascendo’ dessas eleições, um país onde o reacionarismo e conservadorismo emerge com força quando convocado pela grande (?) mídia, velha, que também necessita de renovação. Ou em 2012, 2014, teremos, de novo, o ímpeto golpista…
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Jornalista, historiador e doutorando na Universidade de Coimbra, Portugal