Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A vitória de Dilma Rousseff pelo mundo

‘Não foi o resultado desejado por Washington, mas a vitória de Dilma cria a chance da consolidação do progresso social brasileiro sob Lula’, escreve o economista americano Mark Weisbrot em artigo de opinião intitulado ‘O Brasil ganha com Dilma Rousseff’ no jornal britânico Guardian (1/11). Ele cita a campanha eleitoral brasileira como ‘amarga e feia’, ‘marcada por alegações de corrupção e conduta ilegal de ambos os lados’, e lembra que grupos religiosos e lideranças políticas pró-José Serra apelaram para a religião, acusando Dilma de ser anti-Cristã, querer legalizar o aborto e banir os símbolos religiosos, e de ser ‘terrorista’ por sua participação na militância política contra a ditadura militar no fim da década de 1960.

Weisbrot, que co-dirige o Centro para Pesquisas Econômicas e Políticas na capital dos EUA, diz ainda que a campanha de Serra ameaçava isolar o Brasil da maior parte de seus vizinhos da América Latina ao acusar o governo da Bolívia de ser conivente com o narcotráfico e a Venezuela de encobrir as Farc na Colômbia. Os eleitores, afirma o economista, mostraram apostar mais nas ‘melhorias substanciais’ do país durante o governo Lula do que no que Serra oferecia.

Continuidade

No mesmo jornal, matéria assinada pelo correspondente no Rio de Janeiro Tim Phillips resume no primeiro parágrafo: ‘Uma ex-rebelde marxista que foi presa e torturada durante a ditadura militar do Brasil tornou-se, na noite passada, a primeira presidente mulher da história do país’. Phillips ressalta que, em seu primeiro discurso como presidente-eleita, Dilma prometeu ‘erradicar a pobreza extrema em um dos países mais desiguais do mundo’.

O espanhol El País estampou no título: ‘Dilma Rousseff promete continuar o trabalho de Lula’. O jornal destacou a promessa da presidente-eleita de ‘honrar’ os feitos de seu mentor político, ‘el presidente más popular de la historia de Brasil’. O artigo diz ainda que Lula ‘conseguiu fazer [do país] a oitava potência do mundo e tirar da pobreza milhões de brasileiros’. Em texto da enviada especial a Brasília Soledad Gallego-Díaz, é lembrado que Dilma tratou de ‘adoçar sua imagem dura’ para se tornar candidata à presidência. O artigo cita um membro do PT dizendo que Lula sempre gostou do fato de Dilma ser uma pessoa que faz as coisas acontecerem e dela não ser considerada a pessoa ideal para a sucessão. O presidente também sempre admirou a lealdade da ex-ministra.

Primeira mulher

O jornal francês Le Monde deu destaque ao fato de Dilma ser a primeira mulher a administrar a oitava economia do mundo e também à alta abstenção no pleito, mesmo com a obrigatoriedade do voto – 21% dos brasileiros não votaram. Ainda segundo o diário, o presidente francês Nicolas Sarkozy foi o primeiro chefe de Estado a parabenizar a presidente-eleita. Na América do Sul, a vitória foi saudada pelo presidente de esquerda radical da Venezuela, Hugo Chávez.

O Le Figaro reportou que a ‘aposta insensata’ de Lula foi bem sucedida: sua sucessora ganhou, tornando-se a primeira mulher presidente do Brasil. A eleita prometeu, sob lágrimas, dar continuidade às obras de seu antecessor, destacou o jornal, afirmando que a eleição de Dilma marca uma clara polarização entre os mais pobres e os mais ricos. Mesmo com resultado inferior ao registrado por Lula em 2002 e 2006 (com mais de 60%, contra 56% de Dilma), a nova presidente – que começa o mandato no primeiro dia de janeiro – se beneficiará de uma grande maioria no Senado e na Câmara, o que deve ajudar a compensar, em parte, o carisma do líder que deixa o governo.

Vitória de Lula

O New York Times diz que a vitória de Dilma se soma a uma ‘crescente onda de líderes mulheres eleitas democraticamente no mundo nos últimos cinco anos, entre elas Michelle Bachelet, no Chile, Cristina Kirchner na Argentina e Angela Merkel na Alemanha’. O diário americano avalia que, ao escolher Dilma, ‘que não tem experiência política eleitoral’, os eleitores brasileiros ‘passaram a mensagem de que preferem dar ao Partido dos Trabalhadores mais tempo para ampliar as políticas econômicas bem sucedidas de Lula’. O artigo cita o sociólogo Demétrio Magnoli dizendo que o atual presidente tratou a campanha de sua sucessora como uma ‘campanha à reeleição’.

Já o Washington Post destacou que Dilma ‘tem expertise desde energia até finanças’ e afirmou que a candidata escolhida pelo presidente Lula ‘venceu confortavelmente’ a eleição, ressaltando o papel internacional do líder brasileiro. ‘Saudado como ‘meu cara’ e ‘o político mais popular da Terra’ pelo presidente Barack Obama durante uma cúpula em 2009, Lula, hoje com 65 anos, tem índice de aprovação de 80%’. O peso da figura de Lula na vitória de Dilma Rousseff foi lembrado na primeira página do diário brasileiro O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira [1/11]. Sobre a foto da presidente eleita, a manchete em letras garrafais anunciava ‘A vitória de Lula’.