O Washington Post divulgou, na semana passada, suas diretrizes para publicações em plataformas digitais. Para o ombudsman do jornal, Patrick B. Pexton, a publicação do documento é um passo da companhia em direção à transparência e uma contribuição valiosa para a atividade jornalística.
As diretrizes foram publicadas depois de meses de discussões na redação e receio dos advogados da Washington Post Company de que, se divulgadas, poderiam se tornar um convite a novos processos. “Hoje em dia, nada mais é privado”, resumiu o editor-assistente Peter Perl, que ajudou na confecção do documento. “Estamos pedindo que as pessoas confiem em nós como uma fonte de informações de credibilidade, então por que não publicarmos aquilo que defendemos? Por que as pessoas não deveriam sabê-lo?”. E ele completa que o jornal – para o terror dos advogados – espera ser cobrado por isso.
Pexton ficou satisfeito com a decisão, classificando-a como uma vitória da franqueza e da responsabilidade. “E vocês, leitores, terão a chance de comentar as práticas digitais do Post e, no fim das contas, aperfeiçoá-las”. O prefácio das diretrizes diz que trata-se de um “documento vivo” que será continuamente modificado e atualizado com base no feedback de jornalistas e leitores e nas percepções do jornal sobre suas necessidades de mudança.
Primeiro passo
O manual interno de padrões do Post, no entanto, continua fora do alcance do público. É este documento que contém todas as diretrizes para as práticas do jornal. “As diretrizes [para as plataformas digitais] são apenas um complemento para o manual”, lembra o ombudsman. Mas ele acredita que torná-las públicas pode ajudar a, um dia, fazer com que o Post divulgue todas as suas regras e padrões.
Pexton acredita que algumas diretrizes não serão bem vistas por “tradicionalistas” ou pessoas que leem exclusivamente o jornal impresso. Elas dizem, por exemplo, que haverá momentos em que os jornalistas do Post deverão, eles próprios, publicar suas matérias na internet, sem a interferência de editores, redatores ou revisores. O jornal ainda não faz muito isso – as matérias costumam ser checadas por dois editores e os posts dos blogs, por um –, mas às vezes é preciso ser rápido diante de notícias quentes que devem entrar imediatamente no site ou em postagens nas redes sociais.
Casos assim ainda precisam ser autorizados por editores sêniores, e as diretrizes afirmam que o texto deve ser revisado por um editor o mais rápido possível após a publicação online e que não deve nunca violar os padrões jornalísticos de precisão e imparcialidade.
Sociável, mas nem tanto
Em outro ponto abordado pelo documento e que promete controvérsia, é feito um alerta sobre cuidados com o que se posta nas redes sociais e blogs: “jornalistas do Post não devem escrever, tuitar ou postar qualquer coisa – incluindo fotografia e vídeo – que possa ser entendida como inclinação ou favoritismo político, racial, sexista ou religioso”.
“Esta é uma situação delicada, porque, no ambiente online e nas mídias sociais, repórteres são encorajados a ser mais ativos e pessoais, mais sociáveis e até opinativos, mas não parciais”, diz Pexton. Jay Rosen, professor de jornalismo da New York University, elogia a transparência do jornal em publicar as diretrizes, mas não gosta desta parte. Para ele, trata-se de um “convite à auto-censura”. Jornalistas poderão ser sempre vistos como parciais por um dos lados de uma disputa política – mesmo quando não há parcialidade.
O professor Dan Gillmor, da Escola de Jornalismo Walter Cronkite na Universidade do Estado do Arizona, também considera a publicação das diretrizes – que tem cinco mil palavras – algo positivo, mas preferia um documento de uma linha que dissesse simplesmente: “Seja humano, seja respeitável e não envergonhe a empresa”.