O maior furo jornalístico esportivo dos últimos tempos, a “venda” de Neymar para o Barcelona, do repórter Luís Augusto Mônaco, de O Estado de S. Paulo/Jornal da Tarde, divulgada no sábado(3/9) com grande alarde, não se confirmou, pelo menos por enquanto. Ou seja, é um furo n’água.
O texto assinado por Mônaco começa assim: “Neymar é do Barcelona. O Santos assinou contrato com o clube espanhol, que tem como Lionel Messi seu principal jogador. Pelo documento, o atacante se apresenta em janeiro de 2013” (como santista, não acho um mau negócio, se se considerar a premissa de que cedo ou tarde o jovem craque vai embora).
Já no domingo (4), com apoio, claro, do jornal, tentando provavelmente diminuir os danos a sua credibilidade, o repórter assina outro texto em que o editor se esforça por dissimular o equívoco, ou, no mínimo, a pressa. O título da matéria do dia seguinte é: “Santos sempre preferiu vender o atacante Neymar para o Barcelona”, com a linha fina logo abaixo mantendo que “Presidente nega, mas novas fontes confirmam que o negócio está fechado”.
Negociação está “fechada” ou “avançada”?
O texto do domingo tenta sustentar: “Apesar do enfático desmentido do presidente santista Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, pessoas próximas à transação confirmam “em off” a informação publicada no sábado por O Estado de S. Paulo”. Entretanto, por fim, reconhece: “Um integrante do Grupo Guia (Gestão Unificada de Inteligência e Apoio), que assessora Luís Álvaro, admitiu que a negociação com o Barcelona ‘está muito avançada’” (grifo meu).
Aqui está uma completa inversão retórica. Espertamente, ao invés de o repórter (jornal) reconhecer seu recuo (pois a transação agora “está muito avançada”, e não “fechada”, como disse antes), ele inverte a ordem das coisas para dizer que uma fonte (aliás não revelada) “admitiu” que a negociação com o Barcelona “está muito avançada”.
Mais à frente: “E na Espanha uma fonte afirmou à reportagem que o vazamento da notícia ‘talvez atrase um pouco’ a finalização do negócio”, diz a reportagem do domingo, dia 4, e continua: “Entre os clubes está tudo certo, mas falta fechar o contrato com o jogador. Isso deverá ser feito pelo pai de Neymar, porque Wagner Ribeiro decidiu não cuidar mais da carreira do garoto nem falar com o Barça”.
Ora, caros leitores, convenhamos, se “só falta fechar com o jogador”, então a notícia de sábado não existe, apesar da operação de salvamento da informação, mais popularmente conhecida como “emenda ficou pior do que o soneto”. Entre a afirmação cabal “Neymar é do Barcelona” e a dissimulada emenda “a negociação está muito avançada” vai uma distância gigantesca, exatamente a distância entre o fato e o factoide.
Por fim, ao tentar salvar o furo n’água, a matéria se vale do velho expediente do off e de fontes não identificadas: “pessoas próximas à transação confirmam em off”; “na Espanha uma fonte afirmou”.
Acredito (mas até aí morreu Neves) que o destino do jovem craque seja mesmo o Barcelona. Mas imaginem se, encerrado o primeiro turno da eleição presidencial de 2010, um jornal desse a manchete: “Dilma é eleita presidente”. O fato de ela ter vencido no segundo turno não salva a informação anterior.
A última notícia do jornal espanhol Marcasobre o episódio é da madrugada segunda-feira (5/9), e traz uma declaração do pai de Neymar. Segundo ele, o craque “está encantado” com o interesse por seu futebol na Europa. Mas ressalva: “Ele quer ficar para o centenário do Santos [em 2012]”.
A palavra do clube
Em nota oficial divulgada no domingo, o Santos F. C. nega veementemente a informação de Luís Augusto Mônaco de O Estado de S. Paulo. No Santos, trabalha-se com a idéia de que a notícia foi plantada com o intuito de atrapalhar as negociações com o Barcelona, que de fato existem. Leia a íntegra do comunicado neste link.
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[Eduardo Maretti é jornalista]