Causou grande celeuma a proposta de instalação do Conselho Estadual de Comunicação aprovada pela Assembleia Legislativa do estado do Ceará. A grande questão era que esta proposição iria promover a censura aos meios de comunicação e seria um atentado à sociedade e à liberdade de imprensa. Nos dicionários, a palavra censura aparece como repreensão e desaprovação e claro que não é uma atitude que se coadune com a democracia.
A discussão sobre censura deveria se aprofundar e fazer parte do debate sobre o problema em questão. Deveríamos refletir sobre qual é o tipo de censura que existe na comunicação hoje… Será que temos censura no Brasil? Há democracia nas comunicações? Qual o tipo de censura que temos hoje? Sabemos claramente que a censura não existe na lei, mas existe na prática, quando vemos que nossos membros dos meios de comunicação utilizam seus instrumentos para noticiar o que é interesse dos poderosos e completamente deslocado dos interesses populares.
A censura existe, sim, mas é uma censura motivada por interesses econômicos. Veja, por exemplo, nossos jornais, que geralmente publicam notícias somente quando não ferem os interesses do poder. Há meios de comunicação que blindam os governantes simplesmente porque esses são grandes investidores em publicidade. Há ou não há censura? O debate sobre comunicação deveria abordar esta situação, pois não há censura para quem tem poder político ou econômico.
Muitos que são hoje poderosos ou têm fama dizem o que querem nos meios de comunicação e têm apoio da mídia para propagar infâmias, discriminações e outros tipos de agressão às pessoas. Alguns meios de comunicação no nosso país estão a serviço dos poderosos e são em grande parte dominados por grandes grupos políticos e econômicos, o que é completamente deslocado do sentido de concessão pública da comunicação. Precisamos urgentemente mudar este estado de coisas, pois o povo precisa de uma comunicação limpa e verdadeira.
Um tema nebuloso
A situação democrática dos meios de comunicação é concretamente uma necessidade urgente para nosso povo, pois as notícias e informes tem de estar afinadas com os interesses populares para que todos tenham vez e voz, o que não acontece na atual ‘ordem democrática’ da nação. Temos uma comunicação motivada exclusivamente pelos grupos de poder que dominam nossos meio comunicativos e só são publicadas as notícias que interessam a esses grupos. Diante desse quadro, podemos afirmar claramente que a censura já existe, porém não é uma censura de regime, mas uma censura de dinheiro e poder.
Quando um representante do poder se sente agredido pela mídia, uma das providências mais correntes é investir em propaganda e tudo de repente muda, pois este passa a ser laureado com elogios e considerado um grande cidadão. Existe ou não existe censura ? Por que o povo não tem o direito de dizer o que pensa? Em nosso país, a opinião do povo é filtrada nos jornais, que publicam apenas o que lhes interessa e no rádio a opinião do ouvinte vai se exaurindo lentamente e são poucos os que têm direito de falar. Existe ou não existe censura?
Achamos importante que o debate sobre censura seja feito, mas que seja livre dos interesses motivadores dos grandes ‘barões ‘ da comunicação e que haja uma discussão sobre o que é realmente é censura, pois para muitos, exigir qualidade, respeito e verdade na comunicação geralmente é confundido com censura. Os grupos que hoje lutam pela democratização da mídia são rotulados como censores, pois exigir qualidade é censura para os que apostam na baixaria como objeto de audiência e comunicação. Precisamos refletir sobre a censura e mudar algumas concepções que fazem parte da estratégia de dominação tão comum em nossa sociedade.
O que é realmente censura? Para muitos, este é um tema nebuloso e tem a ver com o processo de dominação que o dinheiro ainda faz com tantos que, pela sua necessidade e interesses, mudam de opinião e acabam fazendo parte do contexto de interesses dos donos do poder. O que é, afinal, a censura? Para os que têm poder, ela não existe, mas para os pobres cidadãos ela existe e existirá. Uma pena que seja assim…
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE