Inflação em alta foi tema de primeira página em grandes jornais no dia 7 de setembro. A manchete mais barulhenta foi a do Correio Braziliense: “Inflação devora meta do governo”. As coberturas chamaram a atenção principalmente para dois pontos, o repique da alta de preços, depois de uma breve acomodação no meio do ano, e a taxa acumulada em 12 meses, 7,2%, bem acima do teto oficialmente admitido, 6,5%.
Na maior parte das matérias, a elevação dos preços da comida foi apresentada com destaque. De fato, o custo da alimentação foi o principal componente da alta de 0,37% do índice usado como referência principal pelo governo. Mas a cobertura seria mais informativa se os editores tivessem dado mais importância a alguns dados muito interessantes.
Um bom exemplo é a inflação dos serviços, forte sinal de uma demanda interna ainda vigorosa. Esse grupo de preços aumentou 8,93% em 12 meses – mais um forte sinal do vigor da demanda interna. O Globo dedicou um box a esse tema, na primeira página do caderno de economia, mas não o valorizou na apresentação geral. Só no material do Estado de S. Paulo esse detalhe foi valorizado já no subtítulo.
Sem novidade
Outro dado significativo, quase sempre ignorado, é o índice de difusão. Em agosto, subiram 64,58% dos preços pesquisados. Em julho o aumento havia sido observado em 53,13% dos itens. Esse é um dado relevante, quando se quer discutir se a inflação resulta de um choque de oferta de alguns produtos (alimentos, por exemplo) ou se é preciso olhar também outros fatores. Muito raramente esse detalhe é valorizado nas matérias dos jornais. No entanto, é normalmente apontado por especialistas consultados logo depois da divulgação dos indicadores de preços. O Estadão acabou explorando o assunto na edição de segunda-feira (12/9).
Era previsível, desta vez, a importância atribuída ao noticiário sobre a inflação. Uma semana antes, o Comitê de Política Monetária (Copom) havia reduzido os juros básicos de 12,5% para 12% ao ano. A divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto seria uma boa ocasião para se avaliar de novo aquela decisão, mas a maior parte das coberturas foi mais volumosa do que atenta a alguns dos detalhes mais significativos.
Além disso, os jornais continuam cobrindo os grandes temas da economia como se fossem isolados. Não daria muito trabalho juntar alguns dos últimos dados – como emprego e salário, vendas do comércio e nível de atividade de alguns setores – para compor um quadro mais informativo.
Na quinta-feira (8/9), sairia a ata do Copom, publicada, como de costume, oito dias depois da reunião. A nota distribuída em 31/8 havia justificado o corte de juros com perspectiva de forte retração da economia mundial. Se isso ocorresse, as cotações das matérias-primas cairiam no mercado internacional e as pressões inflacionárias deveriam dissipar-se. O texto ainda mencionava, embora muito brevemente, projeções de esfriamento da economia brasileira.
A ata saiu sem grande novidade. Trouxe, como sempre, uma rica série de informações sobre a economia brasileira e sobre o cenário internacional e projeções de inflação elaboradas pelo BC e por instituições privadas. Mas não reforçou os argumentos sumários apresentados na semana anterior.
Discurso de Obama
A cobertura, como de costume, foi baseada principalmente em opiniões de entrevistados. Também como de costume, destacaram-se as previsões do pessoal do mercado financeiro (por exemplo, haverá ou não haverá mais cortes da taxa Selic nos próximos meses).
A reportagem publicada pelo Globo teve uma qualidade especial: organizou a discussão e as críticas de acordo com tópicos e assim ordenou as críticas mais interessantes formuladas pelos entrevistados. O trabalho de ler e de analisar com a própria cabeça o documento oficial continua reservado aos colunistas. É pouco. A cobertura seria mais informativa e relevante se fosse além da habitual coleta de opiniões e interpretações de especialistas e de gente do “mercado”.
O leitor mais ou menos atento juntaria a leitura do material sobre a ata do Copom com o exame do noticiário sobre economia internacional. Houve quem mencionasse, ao comentar a ata, a fala do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, sobre as más condições da economia em sua região. Mas o material publicado pelos jornais muito raramente junta as peças ou remete o leitor de uma para outra cobertura.
À noite o presidente Barack Obama apresentaria seu plano de reativação econômica e de criação de empregos em discurso no Congresso. O noticiário dos jornais trouxe pouca novidade – a quem assistiu ao discurso pela TV na quinta-feira (8). A informação mais ampla e mais organizada foi a do Estadão. A leitura valeu a pena mesmo para quem havia assistido à fala de Obama.
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[Rolf Kuntz é jornalista]