Nove entre dez mesas de debates na recente Bienal do Livro discutiram, em certo momento, a questão: o e-book – ou o livro digital, ou “as novas mídias” – vai acabar com o livro impresso? Nem a velha pergunta “Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?”, nem a formulação de Freud “Afinal, o que querem as mulheres?”, nem o terceiro segredo de Fátima interessou tanto nos últimos cem anos. Parece que não chegaremos a 2012 se alguém não der uma resposta a isto.
Dito assim, tem-se a impressão de que as massas estão se organizando em batalhões e comprando mais e-books do que a indústria editorial está sendo capaz de produzir. Que, nos aviões, ônibus, metrôs, praias e cabeceiras não se veem mais livros de papel na mão das pessoas, só tablets. E que os e-books estão disparando nas listas de livros mais vendidos.
Livreiros falam em fiasco
Na verdade, não é assim – não, no Brasil. As maiores editoras brasileiras, levadas pelo que parecia ser uma tendência incontornável, fizeram enormes investimentos e, de um ano para cá, “disponibilizaram” centenas de títulos nesse formato. E como vão de vendas? Uma super-editora já vendeu 70 exemplares dessas centenas. Não 70 exemplares de cada título, mas 70 no total. E há outras no mesmo caso. Donde, inúmeros títulos estão há meses à míngua de um único leitor. Todo mundo fala e quer saber, mas ninguém compra.
Mas, nos EUA, todo mundo está aderindo ao e-book, dirá você. Sim, é o que afirma a Amazon, pai e mãe do brinquedo e principal interessada em que o mundo arrase em e-books. Só faltou combinar com o resto do planeta. Os números que a Amazon apregoa não batem com os dos livreiros brasileiros, que se sentem mais próximos dos números de venda de e-books na Europa – que também falam de um fiasco.
O e-book é um sucesso. Só não tem leitores, nem compradores.
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[Ruy Castro é jornalista e escritor]