Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um novo Barão Mauá?

Com longa jornada no cenário comunicacional brasileiro, o extrovertido empresário Senor Abravanel, o popular Silvio Santos, volta a ser manchete. O patrão abriu o bolso para jogar seus aviõezinhos de dinheiro, agora para salvar seu empreendimento bancário, o Banco Panamericano, como já foi comentado. A medida vem a partir da crise identificada pelo Banco Central, onde a instituição financeira do Grupo Silvio Santos estaria com um rombo de R$ 900 milhões em seus ativos, necessitando de uma injeção financeira de R$ 2,5 bilhões para restabelecer sua plena saúde financeira.

O que se esperava do apresentador Abravanel nesta situação? Em uma medida amplamente midiatizada, Silvio Santos publicamente integrou ao patrimônio do Panamericano (do qual 49% já haviam sido comprados pela Caixa Econômica Federal) a quantia de R$ 2,5 bilhões, conseguida por empréstimo, usando como garantia suas empresas, entre elas o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. O fato tornou-se notícia de destaque de grandes jornais, portais na web, canais televisivos concorrentes e emissoras radiofônicas, evidenciando, mais do que uma questão bancária, a figura direta do empresário.

A observação desses acontecimentos leva à recordação de outra figura histórica: o Visconde de Mauá. Irineu Evangelista de Sousa, que no século 19 ganhou os títulos de barão e visconde, também foi menino pobre, como Abravanel. Ambos foram comerciantes e, por suas ações perspicazes e de forte cunho pessoal, ascenderam economicamente e ganharam prestígio mercadológico, imagético e político. Tornaram-se ícones. Mauá implantou estradas de ferro, instalou siderúrgicas e estaleiros; investiu em iluminação pública, saneamento e na mídia telégrafo (com o oneroso projeto do cabo submarino, sonho de Dom Pedro II); fez parcerias com o capital estrangeiro e atuou junto aos planos do império nacional. Era um ícone, sinônimo de progresso, espelhando seu prestígio na sua instituição financeira: o Banco Mauá, com atuação internacional. Silvio Santos também ascendeu como manda a boa cartilha capitalista: é o típico self-made man que, além de perspicaz nos negócios, é artista, anima o público, garante diversão e distribui prêmios com seus programas e empresas de capitalização.

Trânsito pelos setores políticos

Vista a crise do Panamericano, o que se concretizou foi uma postura personalista de Abravanel, quando a figura do totem Silvio Santos se sobrepôs ao próprio Banco Panamericano: o empresário deu como garantia sua imagem, refletida em seus negócios, para dar base a um contrato. Com seu potencial de mobilizar massas e a imagem midiatizada, ele é, indiretamente, a grande caução do empréstimo. Não se pode esquecer de sua força junto às colegas de trabalho (como carinhosamente chama a plateia feminina de seu auditório), tanto que quase chegou à presidência da República, nas eleições de 1989, em uma candidatura rápida (onde dizia ‘É o 26, é o 26, com Silvio Santos chegou a nossa vez’), de praticamente duas semanas, que acabou vetada pela Justiça Eleitoral.

Agora, frente aos acontecimentos, coloca-se a imagem do apresentador à prova, quando completa (em dezembro de 2010) 80 anos, seguindo com programas semanais e dando a um dos principais canais televisivos do país um toque personalizado: ‘SBT : a TV mais feliz do Brasil’. De toda forma, ainda tem trânsito pelos setores políticos (como na visita realizada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro último) e respeito no mercado.

Frente a um cenário complexo, seria Abravanel, em outro segmento de público, negócios e mundo, o simulacro de um novo Mauá? O que se pode vislumbrar é que, apesar da crise do Grupo Silvio Santos, é pouco provável que o patrão acabe como Evangelista de Sousa, na pobreza, falido e num ostracismo público.

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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e mestrando no mesmo programa, da mesma instituição