Dizem que não existe censura no Brasil e brada-se por aí que os nossos meios de comunicação são democráticos e se utilizam do espaço interativo para ouvir os seus usuários e fazer dos meios de comunicação a cara do que pensa o povo. Não sei se sou extremamente pessimista, mas a realidade é bem outra no contexto do rádio, da televisão e de outros meios de comunicação. É simplesmente triste entender que essa história é falácia pura e que a maioria dos meios de comunicação só existe para atender aos interesses dos que têm o poder político e, sobretudo, econômico. Essa situação é notória em todos os meios de comunicação e tem a ver com a própria estrutura de poder que predomina em nossa sociedade, baseada na exclusão social, na discriminação e na troca de favores que é tão comum no cotidiano de todos nós.
Nossos meios de comunicação são dominados por grupos de poder que estão nas igrejas, na vida política e nos detentores de dinheiro em nossa sociedade o que para nós acaba descaracterizando a situação de concessão pública dos meios de comunicação. Tente mandar uma crítica a alguma prefeitura que esteja com grande verba publicitária em algum meio de comunicação para ver se passa… O que é isso, é democracia? Vale ressaltar que muitas pessoas têm de se esconder em pseudônimos para poder falar no rádio ou escrever em algum jornal de circulação ou algum participar de algum programa televisivo.
No entanto, vemos que nossos jornalistas em grande parte não têm vindo de classes populares nem têm alguma relação direta com os anseios populares e talvez por isso se afastem das massas selecionando notícias e castrando o direito à crítica, ao questionamento e ao processo de desenvolvimento do senso de justiça. Vivemos hoje uma situação de ditadura midiática em que muitos jornalistas se julgam semideuses que tudo podem e tudo fazem. A situação é grave e torna a comunicação inacessível a grupos populares que pouco têm espaço na mídia. Os jornais e revistas de circulação nacional se utilizam do famoso ‘fale conosco’ falacioso e sem retorno para se dizerem democráticos, o que na prática não existe.
Uma suposta situação de interatividade
Desse modo, há pouco a se fazer pela democratização da mídia, pois na maioria dos casos temos grupos que varrem a sujeira para baixo do tapete fingindo que tal problema não existe e que algumas reivindicações são apenas lamentações vagas ou sem lógica. A luta pela democracia midiática tem de ser democrática e deve ser objeto de participação de todas aquelas pessoas que possam contribuir para a redução de desigualdades e anomalias. A questão é séria, porém não tem muitas soluções caso não haja uma luta firme com participação de todos os segmentos da sociedade. A situação de gravidade do processo de destruição de uma comunicação popular e voltada para a melhoria da sociedade é clara e conta com vários agentes que são jornalistas com medo de perder o emprego ou que se sustentam com a miséria dos outros os donos da comunicação, que se beneficiam da falta de senso crítico e o processo de deseducação popular é uma realidade.
Por outro lados, não temos líderes que possam promover a mudança, muitos são aproveitadores que se beneficiam com o discurso da crítica e pouco fazem no sentido de uma ação verdadeira se escondendo em blogs, ONG´s e até sites que têm objetivo exclusivo de promoção própria ou narcisismo exagerado. Não verificamos no momento alguma forma de reação ao processo de endurecimento ditatorial da mídia, que é desencadeado por visões equivocadas do que seja a comunicação. Não temos espaço para reclamar do que está sendo feito em relação ao direito do usuário de comunicação da verdade, da sinceridade e do verdadeiro modo de fazer notícia. A figura de ouvidores e de assessores de imprensa na maioria das vezes passa a ser confundida com defensores implacáveis dos órgãos aos quais os mesmos pertencem.
Para finalizar gostaria de solicitar a alguns jornalistas que respeitassem seus usuários e pelo menos mintam um pouco dizendo que leram os contatos recebidos. É bem mais decente e significaria uma suposta situação de interatividade. É uma pena que a comunicação seja assim…
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE