Sob um silêncio constrangedor de seus pares, o Estadão prossegue em rota de colisão com o Judiciário. Depois de duas reportagens claramente indignadas contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça que anulou provas obtidas através de telefonemas gravados, no processo que envolve o empresário Fernando Sarney, o jornal paulista volta, sozinho, ao campo de batalha para expor o que pode ser um esquema de tráfico de influência na Justiça.
Nesta quarta-feira, 21, reportagem que ocupa a manchete do jornal informa que, para anular as provas contra o filho do senador José Sarney, a 6ª Turma do STJ bateu recordes de eficiência e celeridade.
O ponto central da reportagem leva a conclusões perigosas. Ao observar que, ao contrário de outros processos, o STF funcionou como uma instituição extremamente rápida e eficiente, o Estadão está afirmando, sem meias palavras, que os desembargadores demonstraram um empenho muito maior em livrar Fernando Sarney do que é o comum de sua rotina.
No caso Satiagraha, a anulação de provas levou um ano e oito meses e o relator estudou o processo por dois meses antes de apresentar seu parecer. No processo gerado pela chamada Operação Castelo de Areia, a anulação das provas demorou 2 anos e a relatoria demorou oito meses. Para chegar à conclusão de que as provas contra o filho de Sarney não são válidas, a Justiça levou apenas nove meses, o processo foi relatado em seis dias e dois juizes foram convocados para completar o quórum.
A reportagem informa ainda que um dos juizes convocados para completar a votação teve sua aprovação no Senado Federal acelerada pelo próprio presidente da Casa, José Sarney. Fontes consultadas pelo jornal indicam que o procedimento do STF não é comum.
Além disso, o Estadão afirma que a decisão de anular as provas contra Fernando Sarney foi tomada sem levar em conta um parecer do Ministério Público Federal e decisões de juizes de primeira instância, que haviam aceitado como prova o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – que viu indícios de crime em três movimentações financeiras, no total de R$ 2 milhões, feitas pelo empresário e sua mulher.
O Estadão decidiu, claramente, abrir guerra contra certos setores do Judiciário. Os outros jornais fingem que não aconteceu nada.
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Sob o domínio do email
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa
O crescimento exponencial das redes sociais está matando o bom e velho e-mail, certo? Errado. De acordo com os cálculos de Mark Hurst, autor de “Alfabetização Digital: a produtividade na era da sobrecarga da informação e dos e-mails” (BitLiteracy: Productivity in the Age of Information and E-mail Overload), o número de correios eletrônicos enviados diariamente é o triplo das mensagens disparadas nas redes sociais mais populares, como Facebook e Twitter.
Ouvido pela repórter Verónica Calderón, do diário espanhol El País, Hurst, que é mestre em ciências da computação pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), afirmou que “o email não está morrendo”, embora o volume absurdo de mensagens configure uma ameaça para os seus usuários.
A reportagem publicada na edição de ontem (20/9) do El País cita dados da consultoria sueca Pingdom, segundo a qual 107 trilhões de e-mails foram disparados em 2010; 294 bilhões é o número médio de mensagens enviadas diariamente entre os 1 bilhão e 800 milhões de usuários espalhados pelo mundo, estes detentores de 2,9 bilhões de contas de correio eletrônico, das quais algo em torno de 25% são contas corporativas.
Mas, atenção para o drama: 89% dos emails recebidos são spams, isto é, mensagens indesejadas. “Cada trabalhador gasta dois minutos por dia para gerenciar e-mails não solicitados”, calculou Jocelyn Otero, da empresa de segurança de rede BitDefender, também ouvida pelo jornal. E a conta prossegue: isso supõe 10 minutos por semana, 520 minutos por ano – isto é, 8,6 horas. Se a cada hora, na Espanha, se paga seis euros, o spam custa 51 euros – algo como 120 reais – ao ano, por trabalhador.
O jornal foi ouvir o analista digital Chris Anderson, que admitiu: “Todos adoramos o poder de nos comunicar instantaneamente com qualquer parte do mundo. Mas estamos nos afogando nisso”. Ele defende que o melhor a fazer para evitar as repercussões negativas de uma vida conectada full time consiste em uma única palavra: NÃO.
Anderson aconselha que no trabalho é recomendável desconectar-se por algumas horas – e durante todo o fim de semana. Ele sugere uma resposta automática nos seguintes termos: “Pela minha saúde mental e de minha família, decidi ficar um dia sem checar e-mails. Responderei quando for possível.”
Quem se habilita?