Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Diretor se demite após denúncia do WikiLeaks

A rede de TV al-Jazeera, financiada pelo governo do Catar, nomeou um membro da família real do país como substituto de seu principal diretor de jornalismo, esta semana. Wadah Khanfar deixou a rede depois da divulgação de documentos pelo grupo WikiLeaks indicando que ele teria manipulado a cobertura da guerra no Iraque por pressão dos EUA.

Um telegrama enviado pelo embaixador americano Chase Untermeyer, com data de outubro de 2005, descrevia um encontro de um funcionário da embaixada com Khanfar, em que o diretor recebia cópias de relatórios da Agência de Inteligência da Defesa dos EUA críticos à cobertura da guerra no Iraque. Os relatórios se referiam a três meses de cobertura, e Khanfar respondia, de acordo com o telegrama, que o Ministério das Relações Exteriores do Catar já havia lhe entregue um relatório americano relativo a outros dois meses. A conversa sugere que existia um diálogo em andamento entre a rede de TV e os dois governos. Ainda segundo o documento, Khanfar pedia a oficiais americanos que mantivessem segredo sobre sua colaboração, e se queixava de uma referência, em um dos relatórios da inteligência, a um “acordo” entre os EUA e a al-Jazeera. “Como uma organização de notícias, não podemos assinar acordos desta natureza, e ter isso escrito aqui desta maneira nos preocupa”, afirmava.

Ainda que seja apresentada como uma rede independente, muitos críticos alegam que a cobertura da al-Jazeera reflete os pontos de vista de seus proprietários. Enquanto foi bastante atuante na cobertura das revoltas populares no Egito, Tunísia, Síria e Líbia, sendo elogiada até pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, há quem avalie que o padrão jornalístico foi diferente – e a cobertura, insignificante – no caso do conflito no Bahrein, vizinho do Catar.

 Crianças feridas

Membros do governo americano costumavam criticar publicamente a al-Jazeera durante a guerra no Iraque afirmando que a emissora disseminava ódio contra os EUA. Mas no telegrama, Khanfar parece se esforçar para convencer o oficial americano de que a rede estava tentando ser imparcial. Em certo momento, ele chega a dizer que havia mudado a cobertura, removendo duas imagens de crianças feridas em um hospital e de uma mulher com ferimentos graves no rosto.

Khanfar havia sido correspondente da al-Jazeera no Iraque e atuava há oito anos como diretor de jornalismo. Ele pediu demissão na terça-feira, 20, e escreveu em sua conta no Twitter: “Entretido por todos os boatos sobre por que eu me demiti”. Seu sucessor é o empresário xeque Ahmad bin Jasem bin Muhammad Al-Thani. Informações de David Kirkpatrick [The New York Times, 20/9/11].