A bióloga Wangari Maathai, ministra do Meio Ambiente do Quênia e vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2004, morreu de câncer aos 71 anos, no domingo (25/9). A notícia só chegou à imprensa brasileira na madrugada de segunda-feira (26), e foi reproduzida pelo portal G1,do grupo Globo, às 2h20.
O anúncio oficial de sua morte foi distribuído pela ONU nas primeiras horas da manhã, com um obituário digno de chefe de Estado.
Wangari Maathai foi a primeira mulher da África oriental e África central a alcançar o doutorado, obtido em 1971 na Universidade de Nairobi. Antes, ela havia se formado em Ciências Biológicas e obtido o mestrado na universidade de Pittsburgh, Estados Unidos.
Legado de dignidade
A bióloga se tornou conhecida ao liderar um movimento de mulheres por mais qualidade de vida, nas comunidades pobres ao redor de Nairóbi. Sua receita era simples: uma campanha para estimular o reflorestamento e educar as famílias a tratar as árvores como uma espécie de poupança.
O movimento que fundou, denominado Cinturão Verde, se estendeu por outros países africanos e conseguiu a proeza de replantar mais de 30 milhões de árvores em territórios devastados por desmatamentos e guerras. Mais de 900 mil mulheres participaram de suas campanhas para a criação de “berçários” de árvores.
O projeto de Wangari Maathar foi considerado pela ONU um modelo de desenvolvimento local sustentável e produziu resultados surpreendentes por sua simplicidade: ela tratou de mostrar às famílias pobres do Quênia que um consórcio equilibrado entre algumas cabeças de gado, um pequeno bosque e uma plantação pode produzir alimentos mais do que suficientes para uma família.
Além de combater a fome, ela levou a centenas de milhares de quenianos noções básicas de higiene, estimulou o tratamento da água para consumo humano e organizou sistemas de detecção de doenças endêmicas em outros países africanos.
Apesar de perseguida por políticos e militares corruptos e por chefes religiosos que viam seu poder ameaçado pela Movimento Cinturão Verde, Wangari Maathai conseguiu manter e ampliar seu trabalho ininterruptamente por mais de trinta anos.
Deixa um legado de dignidade e certamente a imprensa brasileira vai acabar descobrindo que ela existiu.
Um jornal de peito
Os jornais de um fim de semana sem um tema central, capaz de catalisar as prioridades dos editores, produzem uma sensação de estranheza no observador. A despeito dos esforços para manter uma pauta de alcance nacional, que em tese ajuda no propósito de consolidar as marcas de veículos com pretensões de chegar aos leitores das principais capitais do país, o que se vê, nessas ocasiões, é uma colcha de retalhos na qual cada título tenta prendera atenção do público.
Mas o desenho de figuras desiguais nem sempre produz um mosaico. Quando o objetivo é chamar a atenção, não se pode afirmar que as escolhas irão necessariamente refletir o melhor do jornalismo. Eventualmente, o desejo prioritário de atrair o leitor pode resvalar em escolhas de gosto duvidoso.
Observe-se, por exemplo, a primeira página da Folha de S.Paulo de domingo (25/9). No alto da primeira página, acima da manchete principal, os editores escolheram postar uma fotografia em preto e branco, tirada da revista Serafina, na qual aparecem sete mulheres nuas, nenhuma delas excepcionalmente atraente.
O que chama a atenção na foto é que as modelos sofreram mastectomia radical, ou seja, tiveram um seio extirpado.
Trata-se de uma chamada para uma reportagem sobre a alemã Utta Melle, que decidiu virar modelo de ensaios fotográficos depois de ter sido obrigada a retirar os dois seios, num tratamento contra o câncer de mama. Suas fotos, publicadas num ensaio da revista Stern, acabaram inspirando uma exposição que incluiu outras mulheres nas mesmas condições, retratadas nuas ou seminuas.
Sob o título pouco criativo “Mulher de peito”, a revista Serafina, que circula mensalmente com a Folha, conta a história em um texto de duas páginas.
O propósito de romper preconceitos e chamar a atenção para os riscos do câncer de mama talvez possa justificar a escolha de uma das fotos mais chocantes para a primeira página do jornal de domingo. Mas daí a chamar de “sensuais” imagens de mulheres mutiladas vai uma longa viagem.