A revolução das novas mídias de informação restringiu bastante o monopólio da imprensa sobre a informação distribuída na sociedade. Hoje, o indivíduo leigo, armado por estas novas ferramentas digitais das mídias de informação, é também um produtor de conteúdo. Graças à internet, principalmente. Mesmo com muitos jornalistas a questionar a qualidade e a confiabilidade deste material, a oportunidade criada pela web passou de fenômeno a fato corriqueiro. A necessidade de se incorporar os amadores que podem e sabem veicular conteúdo jornalístico já é uma tendência em grande parte dos jornais online pelo mundo afora.
No início, o impacto destas novas possibilidades sobre o jornalismo contemporâneo obrigou o mesmo a um esforço de adaptação. Este período de acomodação de modo algum anunciou o fim do jornalismo impresso. Embora alguns acreditem que a abertura do conteúdo dos jornais, sem cobrança, vai trazer a hora final dos mesmos, temos que nos ater aos fatos: jornais online ainda não são viáveis, economicamente, e dependem financeiramente de suas contrapartes impressas. E continuarão a existir, pelo menos até o dia em que o jornalismo online lograr a transformação para um negócio capitalista rendoso. Cobrar conteúdo é solução mal-pensada, já que o leitor nunca pagou por notícias. Não existe a tradição, ou cultura, na sociedade, de pagamento por conteúdos jornalísticos. Os anunciantes sempre o fizeram. Já as agências tradicionais de produção e distribuição de conteúdo jornalístico (API, UPI, Reuters e outras), entretanto, sofreram um impacto muito maior. Seu universo grandioso ficou reduzido a pequenos nichos. Estas empresas deverão diversificar seu modo de produção e distribuição de informação. Serão forçadas a abandonar os velhos caminhos, se quiserem sobreviver.
Uma solução fácil e perigosa
Estes são fatos com que os jornais (e jornalistas…) contemporâneos têm que conviver, gostem ou não. Este impacto, trazido majoritariamente pela internet, vem forçando os jornais a necessárias redefinições. A uma busca de novos caminhos, incluindo aí a recuperação da credibilidade. O imenso universo de informação disponível através da internet traz em seu bojo uma grande quantidade de informação inútil. Desacreditada, irresponsável, mas onipresente. A simples existência de tal constelação informacional acabou por abalar também a confiabilidade da imprensa tradicional.
A busca pela superação do impasse provocado pela revolução na distribuição e produção de notícias (com suas redes sociais, blogs, jornalismo cidadão, wikipages – páginas feitas pelos visitantes do site, como a Wikipédia) e outras formas de produção e distribuição de conteúdo por amadores qualificados, consolidou, em muitos jornalistas, a ideia de que se precisa ir ‘além da notícia’ para evitar a perda de leitores e receita. Este espaço ‘além-notícia’ é, entretanto, algo muito nebuloso e inconsistente. E que pode levar a caminhos perigosos. Como extrapolar o universo da notícia através da exploração da personalidade do comunicador. É a solução mais fácil e perigosa, pois reforça a tendência à hegemonia do jornalismo-entretenimento, presente entre nós desde a popularização da televisão.
Informação crítica e de reforço à cidadania
A dissolução dos conteúdos através da banalização da transmissão da informação e do uso abusivo do jornalismo-espetáculo são ameaças concretas não só aos jornais e outras mídias tradicionais. Significam também um avanço difuso, mas extenso, de uma espécie de contra-informação social que assoberba a mente do homem contemporâneo com um volume tão grande de informação que impossibilita ao mesmo o exercício da crítica.
Paradoxalmente, esta avalanche acrítica de informação pode trazer novas possibilidades para os periódicos contemporâneos. Dialogando com um público que já não transfere totalmente à imprensa sua ânsia em entender a complexidade do mundo em que vive, os jornais sairão fortalecidos e renovados. A nova mídia deverá enfrentar e procurar dar coerência a confusão informacional, recuperar e reforçar sua abalada credibilidade, sua criticidade, e seguir em frente como centro de referência de informação crítica e de reforço à cidadania do homem contemporâneo.
******
Consultor de Urbanismo, professor e tradutor