Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Professor de Columbia discute futuro do jornalismo

O chefe do Departamento de Estudos Internacionais do curso de pós-graduação em jornalismo da Universidade Columbia e professor da disciplina de práticas profissionais naquela instituição, David Klatell, visitou na semana passada o Brasil.

Em entrevista transmitida ao vivo pela internet e promovida pelo curso de pós-graduação em jornalismo da ESPM em São Paulo, ele falou sobre o futuro do jornalismo durante 60 minutos.

Além de dar aulas em Columbia, Klatell tem servido de consultor de escolas de jornalismo em 35 países na Europa, África, Ásia e América Latina. Poucas pessoas têm tanto conhecimento acumulado sobre a profissão e seu ensino quanto ele.

Jornalismo é mais

Sua entrevista foi muito esclarecedora em relação a inúmeros assuntos. Um deles, talvez o mais importante, o de que a atividade jornalística não corre risco de desaparecer. Ela vai se modificar muito em relação ao que hoje se faz, é impossível prever que formas tomará nos próximos 50 anos, mas as pessoas vão continuar precisando de informações bem apuradas e de maneira confiável como sempre precisaram, provavelmente até mais.

Para isso, será necessário existir um corpo de pessoas que se dedicam à prática de coletar e transmitir essas informações. Klatell opõe-se totalmente a obrigatoriedade de diplomas ou a qualquer forma de licenciamento para que se possa exercer a profissão de jornalista, mas acredita que cursos especializados podem ajudar muito a formar bons profissionais.

Ele também defende a tese de que há diferenças fundamentais entre jornalistas profissionais e amadores que se acham jornalistas. Não é nem um diploma nem uma carteirinha que determinam essa diferença. Os fatores que fazem de uma pessoa um jornalista são: sua adesão a um corpo de princípios (inclusive éticos, mas não somente) que se estabeleceram como boas práticas profissionais, a experiência, o trabalho em colaboração com outros jornalistas.

Não se trata de códigos escritos e formalizados, mas de um conjunto de conhecimentos que se acumulou ao longo de séculos de trabalho e que é compartilhado por quem exerce a profissão (evidentemente que não de modo absoluto) em praticamente qualquer sociedade do mundo.

Para Klatell, por exemplo, uma pessoa que fica isolada em sua casa e emite opiniões e juízos de valor sobre assuntos em um blog não está fazendo jornalismo, ainda que possa dizer que está. O jornalismo é algo muito diverso da emissão de opiniões a respeito de diversos assuntos na internet ou num café em um grupo de amigos.

Abordagens ricas

Outro assunto de que Klatell tratou em sua entrevista foi o do controle social do jornalismo, a respeito do qual ele também tem opinião contrária. Em sua avaliação, o controle social da imprensa se dá por meio da aplicação das leis existentes para punir crimes de difamação, injúria, calúnia e outros, que possam ser cometidos por jornalistas e quaisquer outras pessoas, e por meio da ação organizada dos consumidores e patrocinadores dos veículos jornalísticos. Além disso, ele só aceita a autorregulação.

Qualquer outra forma de controle, por mais que se chame de “social”, constitui intervenção do Estado e, veladamente ou não, censura. Klatell acha legítimo, por exemplo, que leitores, telespectadores ou ouvintes se mobilizem para boicotar determinados meios de comunicação social que estejam agindo de modo que considerem errado. Ou que pressionem patrocinadores para que deixem de programar anúncios em tais veículos. Isso é controle social de fato do jornalismo ou da comunicação.

A entrevista de Klatell tocou em diversos outros assuntos, todos de grande interesse e a respeito dos quais ele ofereceu informações, ideias e abordagens ricas e estimulantes. Mas estes, que se encontram na pauta das preocupações dos jornalistas e interessados pelo jornalismo no Brasil chamam mais a atenção e merecem este registro neste Observatório.

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[Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista]