Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

“Jornalismo é como uma conversa. Tanto a opinião de quem manda quanto de quem recebe a mensagem é importante” (David Klatell, professor de jornalismo da Universidade Columbia, EUA)

Os leitores do O POVO foram “brindados” na semana com quatro das oito manchetes possíveis até sexta-feira (domingo houve segundo clichê) abordando o tema violência. A primeira na segunda-feira, 19, com o início da série que abordou confrontos entre gangues rivais. Depois veio o assassinato contra vereadores no Interior (terça e quarta-feira), terminando com matéria do professor Vicente de Paulo, morto em assalto em Fortaleza, em pleno bairro central. Esta última com direito a foto na capa e na página interna mostrando o corpo da vítima. Uma imagem tradicionalmente não utilizada no jornal.

O leitor poderia até questionar se O POVO estaria descambando para a linha policial. Não me parece. Os temas ganharam força pelo impacto e relevância que tiveram na sociedade. O jornal teve como mérito sair do simples relatório policial e mostrar a reação dos familiares, a indignação de amigos e das pessoas ainda no local do crime. Foi ágil ao publicar as mensagens deixadas pelos leitores no O POVO Online – foram mais de 100. Pecou só pela foto “chocante”, a meu ver dispensável, embora nenhum leitor tenha se manifestado ao ombudsman de forma contrária.

Diante de tamanha onda de violência o que parecia básico foi esquecido: a cobrança de soluções dos gestores. No caso, uma posição oficial do secretário da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Francisco Bezerra. O jornal registrou só uma tentativa de entrevistá-lo até a edição de sexta-feira – sem sucesso. Foi na terça-feira, no último dia da série “Territórios rivais”, antes de todos os fatos violentos se sucederam. Depois, ele foi esquecido e o leitor teve que se contentar com as versões de delegados e comandantes. Versões que parece cômodas para os jornalistas, mas incompletas para o tamanho da cobrança que deveria ter sido feita não só sobre a proliferação de gangues como também do aumento crescente dos crimes de pistolagem e da violência urbana.

Importância histórica

Se irá apurar a verdade ou não é outro caso, mas a aprovação do projeto que cria a Comissão da Verdade pela Câmara dos Deputados é um momento histórico e merecia um espaço bem maior do que a meia página dada na edição de sexta-feira, em Política. Apesar de manchete, o assunto poderia ter sido mais bem discutido indo além do que foi publicado: um texto, um quadro e um serviço que remete o leitor para consulta de sites. Essa é a primeira vez que, oficialmente, as violações dos direitos humanos cometidas no Brasil entre 1946 a 1988, incluindo o período da ditadura militar, serão apuradas. São revelações que devem mudar o que se aprendeu nos livros.

Ainda dá tempo de o jornal investir no assunto, ampliar a cobertura e dar a real importância do fato. Quem deve integrar a comissão? Quais os limites dela? Como funcionou comissão semelhante em outros países? Quais os principais casos sem respostas até hoje? O que pensa o Grupo Guararapes, a Igreja, os ex-ativistas políticos? Enfim, é preciso lembrar que muitos leitores de hoje, principalmente aqueles com menos de 35 anos, não fazem nem ideia do que foi a dura realidade daqueles tempos.

Rápido e direto

Ideias simples muitas vezes conseguem atingir o público melhor do que projetos mirabolantes. Um exemplo disso é a seção “Agenda da semana” que O POVO começou a publicar há três semanas, às segundas-feiras. Para o leitor Wagner Queiros, psicólogo de trânsito, a decisão é um excelente serviço para o assinante. “É importante porque mostra o que de mais relevante vai acontecer na cidade naquela semana. Dá para se programar”, elogia. Segundo a chefia de Redação o objetivo é ampliar as informações de serviços e, também, “dar visibilidade às questões polêmicas e ampliar a interatividade”.

Palestra

O ombudsman do O POVO ministra palestra na próxima sexta-feira, a partir das 14 horas, na Universidade Federal do Ceará, para os alunos do 3º semestre do curso de jornalismo daquela instituição. O tema será a Importância da Ética no Jornalismo.

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