Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cartéis mexicanos atacam redes sociais

Quando o corpo de uma mulher de meia-idade foi descoberto no fim de semana na cidade mexicana de Nuevo Laredo, parecia que a morte seria registrada como apenas mais uma nota de rodapé na escalada da guerra das drogas no México. Mas uma mensagem deixada ao lado do corpo de Elizabeth María Macías, cujo cadáver foi abandonado em um parque e sua cabeça colocada sobre um pilar de pedra nas proximidades, sugere que o assassinato pode sinalizar o início de uma campanha para silenciar as nascentes redes sociais no país.

Macías, que trabalhava no jornal Primera Hora, foi, na cidade de Nuevo Laredo, uma das colaboradoras mais importantes da Vivo, uma pequena, mas ativa, rede na internet usada pela comunidade para denunciar crimes e manter a vigilância em uma cidade marcada pela violência das drogas. Apelidada “La Nena de Laredo” ou “Garota de Laredo”, Macías incentivou os moradores a passarem informações às forças de segurança do país, como o Exército e a Marinha, que pudessem resultar em detenções e condenações de membros do crime organizado.

Em anos recentes, redes sociais como Twitter, Facebook e sites locais, como Nuevo Laredo en Vivo, começaram a preencher um vazio à medida que os jornais paravam de noticiar crimes relacionados a drogas, por temerem represálias de membros do cartel. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos do país, 74 jornalistas foram assassinados no México desde 2000, oito deles neste ano. Em Ciudad Juárez, que faz fronteira com El Paso, Texas, as coisas estavam tão ruins no ano passado que o jornal local El Diario publicou um editorial pedindo orientação às gangues de drogas. “Pedimos que expliquem o que querem de nós, o que devemos tentar publicar ou não, de modo que saibamos que reações esperar”, dizia. O editorial apareceu vários dias depois que um dos fotógrafos do jornal foi assassinado.

Sementes de terror

“Temos sido silenciados”, disse Hilda Luisa y Valdemar Lima, presidente da Federação das Associações de Jornalistas Mexicanos, após o assassinato do fotógrafo de El Diario. “Já não ousamos redigir notícias.” O Primera Hora de Nuevo Laredo, onde Macías trabalhava, há muito tempo parou de noticiar crimes relacionados às drogas. “Não temos nada a dizer”, comentou um funcionário do jornal em resposta a um telefonema na manhã de terça-feira. A edição na internet parecia ter esquecido o assassinato, preferindo publicar notícias sobre lutadores mascarados e um festival de dança local.

Agora, ao que parece, as gangues de traficantes de drogas podem estar voltando sua atenção contra as redes sociais. Apoiada ao lado do corpo ensanguentado de Macías, uma nota redigida grosseiramente com uma caneta preta dizia: “Nuevo Laredo Live e [outros] sites de redes sociais, eu sou a `Garota de Laredo´ e estou aqui por causa das notícias que eu, e outros, postamos. Para aqueles que não querem acreditar, isso aconteceu comigo por causa de minhas ações, por acreditar no Exército e na Marinha. Obrigado pela sua atenção, respeitosamente, Garota de Laredo… ZZZz.”

A maioria das pessoas sabe que a letra “Z” identifica o cartel Zetas, uma organização aterrorizante originalmente formada por membros que desertaram de unidades de elite do Exército e que, acredita-se, em anos recentes estiveram por trás de algumas das piores atrocidades na guerra do México contra as drogas. Na terça-feira, moradores de Nevo Laredo, chocados, deixaram mensagens de apoio e solidariedade a Macías no site Nuevo Laredo en Vivo. Às 7h09, hora local, Anon5144 escreveu: “Sem dúvida, aqui estamos e aqui ficaremos.”

Mas num possível sinal do que está por vir, muitas mensagens postadas também continham sementes do terror que, esperam os cartéis, amordaçarão as redes sociais mexicanas. Nas primeiras horas de terça-feira, uma mensagens dizia: “Essa garota publicou coisas demais neste site. Isso significa que também há ratozzzz aqui.”

***

[Adam Thomson é jornalista do Financial Times, Cidade do México]