Os defensores da privacidade estão alertando que o Facebook não está informando suficientemente seus usuários sobre como pretende usar uma série de informações – que incluem os hábitos de leitura e audição de música – que vai recolher com novos aplicativos de entretenimento e mídia. As mudanças anunciadas no site, na semana passada, significam que os anunciantes já estão procurando meios de usar as atividades dos membros do Facebook como endossos que poderão ser colocados em anúncios e mostrados para seus amigos no site.
O Facebook não descartou o recolhimento de dados sobre a atividade de seus usuários em sites e serviços independentes com finalidade de marketing e algumas pessoas de dentro da companhia sinalizaram na semana passada que esta é a intenção. Mas o Facebook disse que ainda não começou a trabalhar nessa área. Uma estratégia gradual e parecida foi adotada no ano passado, quando a companhia lançou seu botão “Like”, que inicialmente não foi usado para direcionar anúncios, mas hoje tem um papel muito importante na criação de sponsored stories, um de seus formatos de anúncios mais populares.
Na semana passada, Mark Zuckerberg, o fundador e presidente-executivo do Facebook, fez do que chamou de “compartilhamento sem atrito” a peça central de seu pronunciamento na F8, a conferência anual da companhia com desenvolvedores de programas. Ao integrar mais de perto aplicativos de companhias de mídia ao Facebook, ações como ler um artigo em um site de notícias ou ouvir uma música são automaticamente transmitidas para todos os amigos do usuário em questão, desde que o usuário tenha dado permissão ao aplicativo. Isso poderá incluir todas as músicas listadas no Spotify ou no Deezer, cada filme assistido no Netflix e cada artigo lido nos aplicativos dos jornais The Guardian e The Washington Post.
“Transformando interação em aprovação à revelia”
Os anunciantes deverão poder incorporar essas atualizações nas sponsored stories, que usam o nome de um indivíduo e sua fotografia para recomendar um produto para seus amigos. Até agora, as sponsored stories estão restritas a páginas ou itens nos quais os usuários clicaram o botão “Like” do Facebook, acrescentaram um comentário ou usaram um aplicativo.
Transformar o comportamento “passivo” do usuário em conteúdo de propaganda é algo que lembra o infeliz sistema de anúncios Beacon da companhia, que permitia a criação de anúncios usando-se os nomes de indivíduos com base nos itens que eles compravam em outros sites. O Beacon foi fechado em 2009 depois de protestos generalizados e Zuckerberg pediu desculpas por compartilhar informações dos usuários sem sua permissão explícita.
“O Facebook está dizendo implicitamente, uma vez que tem como parceiros o Spotify e a Netflix, que qualquer coisa que você fizer, você vai gostar”, diz Marc Rotenberg, diretor-executivo do Electronic Privacy Information Center, um grupo de pesquisas de Washington. “Portanto, qualquer música que você ouvir e filme que assistir serão promovidos como se você tivesse gostado deles. Isso está transformando sua interação com um parceiro de negócios do Facebook em uma aprovação à revelia. Isso não está certo.”
“Uma benção para as sponsored stories”
Alguns aplicativos têm sido criticados por não fornecerem informações suficientes sobre como seus dados serão usados quando pessoas derem sua aprovação, com um clique, ao início de compartilhamento. O Spotify enfrentou muitas reclamações em fóruns da internet, esta semana, quando começou a exigir que todos os novos usuários se registrassem em seu serviço de música, para usar suas credenciais do Facebook, com o compartilhamento de audição pelo site sendo acionado à revelia. O Spotify diz que faz do login “uma experiência social simples e ilimitada”, e os usuários podem optar por sair “a qualquer momento”.
Peter Eckersley, diretor de projetos de tecnologia da Electronic Frontier Foundation, uma entidade que defende a liberdade na internet, disse: “Se seus amigos veem um anúncio baseado em coisas que você escolheu publicar, isso pode ser irritante. Se o anúncio publica fatos sobre você sem seu conhecimento, é aí que entramos em um território extremamente assustador.”
O Facebook disse: “Nosso foco agora está em estender essas funções para as mais de 800 milhões de pessoas que usam o Facebook, e não nas oportunidades para os comerciantes”. Acrescentou que “investiu pesadamente” em seu novo sistema para que ele proporcione um “controle completo” sobre a privacidade. “Nossas novas funções de compartilhamento não são como o Beacon porque elas funcionam apenas se as pessoas optarem explicitamente por elas. Através de nosso modelo de permissão de dados, deixamos claro para as pessoas quais informações estão sendo pedidas e como elas serão usadas.”
Os anunciantes estão ansiosos para começar a usar os novos recursos. “Os acontecimentos na F8 são uma benção para o novo e inteligente produto de anúncios sponsored stories, efetivamente turbinando os anúncios com mais conhecimento”, afirma Ben Ayers, diretor de mídia social da Carat, uma agência de mídia de Londres. Ayers acrescenta: “O Facebook precisa explicar muito bem para os usuários como eles poderão controlar o que compartilham e com quem” (Tradução de Mário Zamarian).
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[Tim Bradshaw é jornalista do Financial Times, de Londres]