Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A revolução da web na mídia

Chris Andersen incomodou muita gente quando decretou a morte da web na capa da Wired, em setembro passado. Na realidade, o que o editor-chefe da bíblia da tecnologia quis provar é que os internautas estão substituindo browsers por aplicativos. Ou seja, o protocolo www deixa de ser o principal ponto de navegação pela rede. A tese de Andersen baseia-se em estudo encomendado para a Wired: ‘O tráfego de dados da internet provém de vídeos e troca de conteúdos P2P (compartilhamento de arquivos).’ O assunto não é novo. Ted Nelson, o pai do hipertexto, dissera algo semelhante. Mas com um porém: não matou a web. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2007, Nelson sentenciou: ‘A world wide web não vai desaparecer, mas outras coisas surgirão, assim como e-mail, chat, Vip e Skype. São todas formas diferentes de comunicação, e haverá mais.’

É disso que trata Magaly Prado em Webjornalismo (LTC, 271 págs., R$ 40,00), produção em múltiplas plataformas. A autora incorpora à atividade jornalística termos exclusivos da notícia em rede: crowdsourcing (produção colaborativa), hashtag (palavra-chave utilizada no Twitter para construir narrativa), QR Code (código de barras bidimensional), gadgets (módulos agregadores) e mashup (site ou aplicativo criado a partir de mais de uma fonte), entre outros.

Jornalismo se auto-organiza em rede

Webjornalismo é uma espécie de up-to-date do Guia de Estilo Web – Produção e Edição de Notícias On-line (Senac, 1999), escrito por mim no fim dos anos 1990 para marcar um período efervescente no ciberespaço. Desde então, muita coisa mudou. Não é exagero afirmar que a nova dinâmica do acesso, apresentada por Magaly, coloca o jornalismo em outra perspectiva: celular e televisão, por exemplo, perderam suas funções únicas de fazer e receber chamadas e transmitir imagens. Transformaram-se em dispositivos conectados em rede e entre si.

É isso que está em jogo: a circulação de informação num ambiente que ultrapassa a fronteira do ciberespaço. O conteúdo está além da web. O que não significa a morte do protocolo. Pelo contrário, não reinará sozinho. Prova disso é o RockMelt, o browser do Facebook. Desenhado sob a lógica da conexão, mistura aplicativos e acesso via URL. Outro exemplo é o Twitter. Sua base está na web, ainda que o acesso seja feito via aplicativos como, por exemplo, TweetDeck, iPad ou celular. O jornalismo saiu dos portais para se auto-organizar em rede – e Facebook e Twitter são apenas o começo.

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Jornalista