A atividade do Wikileaks agora deixou de ser uma mera curiosidade para se transformar em questão de segurança internacional: o vazamento de informações sensíveis como a localização de reservas de minerais estratégicos e das rotas de cabos de conexão submarinos que compõem o sistema de comunicação continental significa ultrapassar o limite entre a curiosidade pública e o interesse público.
É antiga e interminável a discussão sobre o direito da sociedade à informação do Estado. Desde os regimes absolutistas até o mais democrático dos governos contemporâneos, sempre haverá uma margem de discrição necessária em determinados assuntos, e essa margem acaba de ser rompida pelo Wikileaks, com a cumplicidade da imprensa.
Em tempos de guerra e crise, sempre houve negociações entre jornalistas e autoridades sobre as margens de segurança da informação. É fato comum, por exemplo, durante sequestros de longa duração, quando a segurança da vítima está sob risco, que a imprensa administre com moderação elementos da investigação que possam atrapalhar a tarefa de salvar vidas, mesmo quando essas informações não são obtidas de vazamentos oficiais, mas garimpadas por repórteres.
Hora da redefinição
Mesmo com a detenção do fundador do Wikileaks, Julian Assange, anunciada em Londres na manhã de terça-feira (7/12), a perspectiva era de que as centenas de sites nos quais se havia desdobrado o negócio do australiano continuariam a receber e divulgar documentos reservados.
O fenômeno não é novo: há anos a internet multiplica conteúdos reservados a respeito de variados assuntos, desde investigações paralelas sobre atentados terroristas até supostas conspirações em torno de surtos epidêmicos, como a gripe provocada pelo vírus H1N1.
A novidade do Wikileaks é o alcance de sua rede de informantes e sua capacidade de penetrar em sistemas de armazenamento de dados que se supunha serem muito seguros.
De qualquer forma, sem o referendo da imprensa tradicional, essas inconfidências correriam o risco de ser consideradas meras curiosidades, parte de velhas teorias conspiratórias.
Com o aval da imprensa, transformam-se em dados capazes de colocar em risco a segurança de milhares de pessoas.
O episódio comprova que a revolução dos meios chegou para transfigurar o mundo da comunicação. Mais do que nunca, chegou a hora de a imprensa redefinir seu papel.
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Onde estão os chefões?
O noticiário sobre a ação policial que libertou alguns bairros do Rio de Janeiro da dominação de traficantes e milicianos ainda patina em detalhes operacionais e não avança sobre os passos seguintes.
Não há referências a planos para atacar os financiadores do narcotráfico nem para rastrear as origens do dinheiro que circula entre os clientes das bocas de droga e os fornecedores de armas e mercadorias para o ‘negócio’.
Existe alguma relação entre esses financiadores e outros negócios obscuros, como a jogatina e a prostituição de luxo?
Questões como essa ainda são mantidas em silêncio pela imprensa, que só tem ouvidos para os tiroteios nos morros cariocas.
Alberto Dines:
O problema da segurança nas grandes cidades brasileiras não se resolve apenas no terreno. É de capital importância expulsar a bandidagem dos seus santuários como está sendo demonstrado no Rio de Janeiro. Mas não se pode esquecer de cortar os canais de financiamento do narcotráfico.
Enquanto os magnatas tiverem recursos para alimentar e manter o sistema de distribuição de drogas, os chefes e chefetes do narcotráfico continuarão operando. Na edição desta noite do Observatório da Imprensa na TV vamos encarar a realidade: a operação no Complexo do Alemão foi bem sucedida no âmbito militar, porém o mesmo não aconteceu no âmbito financeiro. Por quê? Pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional, às 22 horas. Em São Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181da TVA.