Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A pauta das estranhas negociações

Reportagem no jornal O Estado de S.Paulo revela que a bancada ruralista tentou votar, na surdina, o projeto que muda o Código Florestal, aproveitando que a ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, e parlamentares interessados na defesa do patrimônio ambiental encontram-se em Cancun, no México, para a conferência sobre o clima, organizada pela ONU.


A mão de gato dos predadores teve uma ajudazinha do líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vacarezza (PT-SP).


Vacarezza já havia frequentado o noticiário nesta semana, por conta de outro projeto que concordou em apressar, este em parceria com a bancada da jogatina. O parlamentar que representa os interesses do governo estaria liderando um esforço para fazer aprovar uma lei do deputado Arnaldo Faria de Sá, de 2007, que propõe legalizar os jogos eletrônicos tipo videopôquer.


O projeto da jogatina, que teve rejeitado o pedido de urgência na terça-feira (7/12), contém preciosidades como nomear a Abrajogos, entidade que agrega os ‘empresários’ do setor, como encarregada de regulamentar e certificar as máquinas caça-níqueis, assegurando a idoneidade do equipamento. Ou seja, coloca a raposa para garantir a segurança do galinheiro.


Esforço de reportagem


No caso do projeto que tenta desconstruir o Código Florestal, o texto chegou a entrar em pauta, mas não foi votado. Se tivesse passado em primeira votação, certamente a seriedade do Brasil nos debates em Cancun seria colocada sob suspeita.


A argumentação do relator, deputado Aldo Rebello (PCdoB-SP), em favor de reduzir o rigor da lei tem provocado muitas controvérsias e já sofreu algumas alterações desde a versão original, o que demonstra que o tema ainda precisa ser debatido com maior profundidade.


Claro que colocar um projeto em votação não significa determinar que seja aprovado, mas deveria causar estranheza no jornalismo político que o líder da bancada governista tenha participado de manobra para acelerar a tramitação de uma proposta que o próprio governo considera inadequada.


Talvez fosse o caso de a imprensa exercer um pouco de curiosidade jornalística e investigar que interesses teria o líder do governo na Câmara para se arriscar a contrariar o Ministério do Meio Ambiente, todas as organizações que lutam pela sustentabilidade e o próprio senso comum dos especialistas, apenas para agradar a bancada ruralista.