O fim foi anunciado em agosto, mas a intervenção do movimento hip-hop e de atores sociais de outras esferas mostrou a força da cultura periférica, que tem no ex-quase extinto Manos e Minas, da TV Cultura, um canal de comunicação na grande mídia. Mesmo não estando nos principais veículos de comunicação, os MCs, grafiteiros, DJs, b-boys e b-girls mostraram um pouco de seu poder de fogo em frente à Câmara dos Vereadores paulistanos, pedindo a permanência na grade televisiva.
O movimento tem tamanha influência que é possível ver jovens de classe A escutando canções sobre exclusão social em seus automóveis de luxo e trajando roupas largas e bonés virados pra trás. A marginalização que sofrem lembra a de outros movimentos culturais em seus primórdios, mas que com seu crescimento foram incorporados ao cotidiano da sociedade. A extinção da atração tiraria da Fundação Padre Anchieta o mérito de pioneira no tratamento dessa cultura no país.
O programa voltou dia 27/11 reformulado, a casa sofreu cortes, mas sua manutenção mantém um espaço para deliberação atraindo indivíduos excluídos e contribuindo para o democracia, pois no percurso midiático da TV Cultura, Manos e Minas pode dialogar com outros programas apenas por estar na grade, mas pode ir além, também abrindo espaço para interações.
População periférica vs. poderosos
Outro erro, este menor, foi decretar o final de Manos e Minas em período eleitoral. Maquiavel, em sua obra, ensina que não é necessário massacrar a plebe, mas apenas não a oprimir e abrir espaço para os mais destituídos adentrarem o debate tão dominado por grupos hegemônicos. É uma forma de não oprimi-los e até os atrai. O PSDB tem a má fama de partido voltado para as elites e esse movimento ajudou a aumentá-la.
Só que abrir o diálogo apenas em datas eleitorais passa uma imagem eleitoreira, mesmo que seja apenas uma coincidência. Portanto, um diálogo mais saudável entre os poderes políticos e a periferia atrairia votos de forma mais natural, mas principalmente levaria desenvolvimento para todos de uma forma gradual e sustentável. Maquiavel também ensina que uma base sólida feita com calma é mais forte do que algo construído às pressas, o que requer um esforço hercúleo e é suscetível ao fracasso.
‘Os Grammys e os shows de música na América nos tratam como prostitutas.’ A frase de 1991, do falecido rapper americano Tupac Shakur, conhecido como 2 Pac, mostra como a população periférica é tratada por determinados setores poderosos da mídia. O programa Manos e Minas tem o crédito de não pertencer a estes setores.
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Jornalista e mestrando em Comunicação