Criatividade na pauta, liberdade na apuração, ousadia na execução.O que para as novas gerações pode representar apenas uma miragem, diante do cenário desértico de uma
imprensa cada vez mais previsível, burocrática e chata, era o oásis no qual um intrépido time de jornalistas se refestelava durante os anos 1960, sob a mira do chumbo grosso da ditadura militar.
Esses caras inventaram uma revista que, apesar de ter ficado por menos de uma década nas bancas, sobreviveu ao tempo como sinônimo de inovação e estilo. Tema de inúmeros livros, teses e artigos acadêmicos, Realidade se tornou a utopia do jornalismo brasileiro, no sentido mais fantástico, revolucionário e transformador que se pode atribuir ao termo e ao ofício.
Tudo isso é muito bonito. Mas, passados 35 anos de seu fechamento, já estava na hora de alguém tirar a publicação do plano imaginário e devolvê-la, com o perdão do trocadilho, à realidade. Essa tarefa foi assumida e realizada com maestria pelos feras José Carlos Marão e José Hamilton Ribeiro, veteranos da primeira equipe do periódico. Nesta obra, a dupla não apenas resgata duas dúzias de reportagens históricas, republicando-as com comentários de bastidores, como também nos brinda com informações inéditas sobre a vida, a paixão e a morte de Nossa Senhora Realidade. Leitura de primeira qualidade para o público geral, graças aos relatos cativantes – e surpreendentemente atuais – do Brasil e do mundo entre as décadas de 1960 e 1970, e documento para a compreensão da imprensa e da sociedade brasileira na segunda metade do século passado, Realidade re-vista é a história por quem a fez, sem intermediários.
Reciclando e adaptando a atrevida frase cunhada para a grande campanha publicitária do lançamento da revista, em 1966, podemos dizer, aliviados: ‘Chegou o livro que faltava.’
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Jornalista, autor de Nada mais que a verdade – A extraordinária história do jornal Notícias Populares (Summus Editorial)