Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Computação ‘nas nuvens’ para usuários

Nos anos 90, Larry Ellison, criador e presidente da Oracle (uma das gigantes da computação mundial), declarou que considerava inadequado e antiquado, para o consumidor de software satisfazer suas necessidades, ter que ir a uma loja, comprar um aplicativo (na época, gravado em CD), que vinha numa caixa manufaturada tradicional, para depois instalá-lo no seu desktop individual. Seria muito mais prático, segundo ele, o usuário acessar um programa direto da web…

Muitos usuários acharam a afirmação de Ellison imprudente. Afinal de contas estávamos no período anterior à banda larga. A web não era muito confiável. A conectividade ainda era intermitente e o ambiente na rede nada confiável, do ponto de vista da segurança. Por isso, os desktops individuais eram tão importantes: ficavam sempre sob o controle do usuário, em sua residência ou local de trabalho. Longe da instabilidade da web da época. Mas tudo muda muito rápido, no mundo veloz da internet.

A evolução e aperfeiçoamento desta tornaram possível o surgimento dos primeiros softwares com base em navegadores, mas que ‘rodam’ fora deles. Em pouco mais de uma década da declaração de Ellison, os webtops (softwares que ‘moram’ na web) foram conquistando seu espaço. Três gigantes da informática apostaram na ideia, com diferentes abordagens: a Adobe, a Microsoft, e o Google. Este último foi o que mostrou maior interesse no desenvolvimento destes aplicativos.

Começando em 2006, a companhia dona do maior motor de buscas da web aperfeiçoou e lançou seu Office Suite online, que ficou pronto em 2010 – o Google Docs, contendo um editor de textos, uma planilha, um editor de apresentações e outro de formulários. Ao contrário da Microsoft, que concebe o software como um produto, o Google elaborou seu pacote de aplicativos com serviço para o usuário. São todos programas colaborativos, ou seja, voltados para usuários que compartilham atividades ou interesses comuns. Tudo o que é produzido ali pode ser importado, exportado, enviado para um blog, ou como e-mail através da interface da rede. E os aplicativos são compatíveis com os principais tipos de arquivo em uso atualmente.

Hardware de parceiros escolhidos

Em 2008, foi lançado o Google Chrome, um navegador rápido, auto-atualizável e desenvolvido através de código aberto. Apesar de não ser muito usado no Brasil, o browser em pouco tempo tornou-se bastante popular, já sendo, em 2010, a escolha preferida de 9,26% dos internautas pelo mundo afora, segundo o site MarketShare. Além disso, o Chrome ainda suporta e mantém o Firefox, da Mozilla, o segundo navegador mais popular, com 22,76% do total de usuários espalhados pelo planeta.

Em 2009, a empresa revelou que estava trabalhando em um novo sistema operacional, baseado no Linux e, como este, também com código aberto e licença livre. A interface será muito simples, com apenas um programa instalado no computador: o navegador. Todos os outros aplicativos ficarão na web. O sistema operacional foi projetado para quem faz uso intensivo da internet.

Apesar da licença livre, o programa não será gratuito. Pelo menos até agora, tudo o que sabemos é que o sistema operacional não estará disponível para downloads. Como todo software baseado no Linux, o Chrome OS (este é o nome do novo sistema operacional) está vinculado a certos tipos e especificações de hardware. Quem já trabalhou com Linux conhece a notória intolerância deste a certos tipos de hardware. Muitos periféricos ‘genéricos’ (placas de vídeo, som e outros dispositivos) não são aceitos por esta plataforma. Mesmo alguns de marcas mais conhecidas não são compatíveis com este sistema. Por isso, o novo sistema operacional do Google só estará disponível em hardware específico de parceiros escolhidos. Em outras palavras, deverá vir instalado (pelo menos no início) em laptops.

Obstáculos deverão ser superados

O lançamento do Chrome-Os estava previsto para a segunda metade de 2010. Dificuldades envolvendo hardware adiaram seu lançamento para o início de 2011, inicialmente em laptops da Samsung e da Acer. Enquanto ele não chega, o negócio é segurar a ansiedade e esperar. De antemão, podemos ressaltar algumas vantagens deste novo sistema: a primeira delas é o uso da ‘computação em nuvem’ (cloud computing) para acessar programas. Com os aplicativos na web, os desenvolvedores deste novo software contornaram as dificuldades notórias das plataformas Linux na instalação e manutenção dos programas para o usuário comum. A segunda vantagem é a portabilidade dos documentos produzidos neste ambiente: tudo que é produzido ali pode ser editado e compartilhado por mais de um usuário. A plataforma aceita todos os tipos de arquivo utilizados dentro e fora da web. E ainda poderemos contar com o principal diferencial do Google: sua criatividade.

Este programa não foi desenhado para competir diretamente com seu poderoso concorrente da Microsoft. O software do Google é para um público que passa a maior parte do tempo na web. Não necessita de disco rígido… Já o concorrente é mais tradicional: tudo fica ali, no desktop. Todos os programas estão dentro do disco rígido. E o futuro, dizem os especialistas, é híbrido: parte dos programas ficará no desktop, parte migrará para a web. Por quê? Por razões estratégicas, principalmente. Ainda precisamos da segurança estabelecida dos desktops tradicionais. Além disso, há muita desconfiança, por parte das grandes corporações de base tecnológica, em confiar seus bens mais preciosos – seus dados confidenciais – a uma nuvem… Mesmo que esta esteja cheia do mais avançado conteúdo tecnológico.

Muitos técnicos qualificados em tecnologia de informação acreditam que estes obstáculos deverão ser superados com o avanço da web 2.0 e com a adaptação da cultura corporativa a esta inovação, dentro de um prazo de 5 a 10 anos. Se isto se confirma, haverá então espaço no mercado para os dois sistemas operacionais. E muito mais.

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Consultor de Urbanismo, professor e tradutor