Chegou ao fim o 40º Campeonato Brasileiro de futebol, a principal competição entre times brasileiros. O Brasileirão é tido como o campeonato mais disputado do mundo. Comprovação para tal afirmação se dá ao fato de que três clubes podiam ser campeões, na última rodada. Na disputa estavam o Fluminense, o Corinthians e o Cruzeiro, respectivamente.
Como já se sabe, o Fluminense foi o campeão no campo e na moral, pois o Corinthians, com a imprensa paulistana a favor, teve diversos auxílios, digamos assim, da arbitragem, ao longo do campeonato. O Cruzeiro seria moralmente campeão também, pois foi o time mais prejudicado, entre os líderes.
Os cruzeirenses, por exemplo, sempre lembrarão do pênalti escandaloso assinalado a favor do Corinthians, no jogo do Pacaembu. Algumas rodadas depois, no jogo contra o Vitória, o goleiro corintiano, Júlio César, fez o mesmo movimento que o zagueiro cruzeirense fizera e nada foi marcado. O que realmente fica de mais forte na lembrança dos mais sensatos foi a torcida de grande parte da imprensa para o Corinthians ser campeão. Posteriormente, a tentativa de desqualificar o título vencido pelo Fluminense. Jornalistas consagrados da crítica esportiva declaradamente passaram por cima dos fatos e analisaram apenas com o coração.
Entendo e não vejo problema de jornalistas torcerem por clube A ou B. O futebol é uma coisa enraizada em nosso sangue e é praticamente impossível alguém não ter ou não ter tido um clube do coração. É DNA mesmo. Porém, quando um jornalista se compromete a comentar e analisar jogos, este deve saber que, antes do torcedor, deve vir o compromisso com o telespectador, leitor ou ouvinte.
O que alguns dos medalhões da grande imprensa paulistana fazem e fizeram, com a grande contribuição dos comentaristas, principalmente ex-jogadores, foi um desserviço ao jornalismo esportivo.
Entrega daqui, entrega dali
O que muito foi abordado pelos programas televisivos foi quem entregou o campeonato para quem. Em 2008, o Internacional de Porto Alegre estava na final da Copa Sulamericana contra o Estudiantes, da Argentina. Priorizando tal final, o Inter colocou em campo um time misto contra o São Paulo, líder do campeonato Brasileiro. Naquela época, o segundo lugar pertencia ao Grêmio. O Inter foi acusado de prejudicar os tricolores gaúchos, acusação essa, diga-se de passagem, injusta.
Um ano depois, o Inter disputava o título contra o Flamengo e o São Paulo. Na última rodada, se o Grêmio vencesse o Flamengo, o colorado consagrava-se campeão brasileiro pela quarta vez. Sem propósito e objetivo em nenhum campeonato, o Grêmio colocou em campo o time B. E, no segundo tempo os jogadores juvenis receberam a ordem de não mais chutar ao gol.
No mesmo ano de 2009, uma rodada antes da entrega do Grêmio ao Flamengo, o Corinthians entregou para o Flamengo. Ronaldo se machucou sozinho e, dias depois, nenhuma contusão foi diagnosticada. O argentino Defederico driblou meio time do Flamengo, inclusive o ex-goleiro Bruno, e quase fez o gol. Resultado: levou uma bronca do então capital corintiano Chicão, que provocou sua expulsão, já no segundo tempo. O grand finale ficou por conta do ex-goleiro do Corinthians, Felipe, que nem pulou na bola, em pênalti marcado a favor do Flamengo.
À época, os jornalistas esportivos, corintianos, não fizeram muito alarde e poucos declararam-se envergonhados pela atuação do time do parque São Jorge. Na capa do jornal do clube, a manchete trazia os caracteres: ‘Doce derrota’. O subtítulo vangloriava-se da derrota corintiana para Flamengo, fato este que atrapalhou o tetra campeonato seguido do São Paulo e o penta palmeirense.
Já em 2010, os fatos se inverteram. Era o Corinthians quem precisava da ajuda de seus rivais. E, era evidente que eles não ajudariam o time de Andrés Sanchez. O São Paulo jogou sem vontade, pode ser, mas só perdeu o jogo quando tinha dois jogadores a menos e, depois de criar algumas chances de gol, diferente do Corinthians em 2009, que nem no gol chutou, para disfarçar. O Palmeiras só se defendeu e estava de ressaca da eliminação da Copa Sulamericana.
O fato revoltou os jornalistas da bancada corintiana, que denunciaram tais derrotas como vergonhosas e muitos voltaram a falar na volta do campeonato no sistema de mata-mata. Os jornalistas esportivos declaradamente corintianos não analisaram a entrega do time deles como vergonhosa, em 2009. Assim como não analisaram que em sete partidas, ou seja, em 21 pontos disputados, o Corinthians venceu apenas três.
Cara feia ao vivo
O que vale ressaltar é que o Fluminense fez por merecer o título, quer queiram os corintianos da TV ou não. Após o término da rodada, muitos comentaristas, apresentadores e jornalistas estavam de cara feia na frente das câmeras, ao vivo, pois o seu time não foi competente para sagrar-se campeão mesmo com o apoio da CBF e com os erros da arbitragem a seu favor.
É preciso lembrar à grande imprensa paulistana que existe vida em outros lugares do Brasil. E o futebol que é jogado em São Paulo é jogado no Mato Grosso do Sul e no Amazonas. Todos jogam com onze jogadores, com uma bola e buscando fazer mais gols que o adversário. E não há perda de hegemonia pelo estado de São Paulo no futebol. Nas últimas dez edições do Campeonato Brasileiro, seis foram vencidos por clubes do estado. O Rio de Janeiro venceu duas edições e Minas e Paraná venceram uma vez cada um.
Por fim, as emissoras de televisão precisam analisar a postura de seus colaboradores e fazê-los entender que o futebol é mais importante que o clube para qual torcemos. Como disse na década de 1960 o técnico do Liverpool, Bill Shankly, ‘O futebol não é uma questão de vida ou morte… É muito mais importante que isso.’
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Jornalista, Natal, RN