Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Cronistas do absurdo

Estão de parabéns o governador Sérgio Cabral, o secretário Beltrame e seus comandados. Não me congratulo com eles apenas por terem cumprido seu dever, mas principalmente… Blá, blá, blá…

Estas palavras têm sido a unanimidade na imprensa, não só nos grandes órgãos de comunicação, como no universo da internet diário-oficial regado com verbas públicas. Estamos diante de um verdadeiro estelionato noticioso, onde fatos, a história passada, o espírito crítico e a verdade em geral são escamoteados para inflar a imagem positiva de um governador totalmente omisso, para não falar conivente com a criminalidade que assola o Rio de Janeiro. Uns embarcam nesta campanha ufanista pensando nos negócios e nos lucros milionários com os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. Outros, no potencial do voto fácil, o chamado voto Tiririca, que Sérgio Cabral é capaz de arrebanhar com seu esquadrão de ‘pezões’ e ‘lindinhos’.

E estes, como o autor do texto usado na epígrafe do nosso artigo, que continua neste mundo de irrealidades, escrevendo em sua coluna ‘As fortalezas e a frota’ (ver em O Globo, 5 de dezembro de 2010): ‘Torço pelo êxito deste governador descaradamente, para que seu pai não sofra, ou sofra menos…’

Não mereceriam umas palavrinhas do cronista?

Bem, acredito que Sérgio Cabral pai não deve sofrer, amparado por sua confortável aposentadoria como ministro de um destes Tribunais de Contas – vantagens da política. Quem sofre é a população em geral, que tem que trabalhar, enfrentar as deficiências de transporte público e vive sob o jugo da criminalidade em mais de mil e duzentas favelas, somente na região metropolitana do Rio. Quem sofre também é o leitor com a crônica de Aldir Blanc, até então considerado um sucessor de Marques Rebelo no registro da vida em nossos subúrbios que a mediocridade televisiva vai apagando.

Que tal o ilustre cronista sair um pouco da redação de O Globo e andar pelas ruas, observando o jogo ilegal, a cidade despoliciada, máfias de vans, guardadores e outras irregularidades? Poderia também escrever sobre as duas centenas de ossadas encontradas por ocasião da descoberta dos restos mortais de Tim Lopes e esquecidas em uma gruta dinamitada pelo governador Garotinho, na época do mesmo partido de Sérgio Cabral. Que tal escrever sobre o ‘milagre’ da pacificação do Alemão-Vila Cruzeiro por ocasião da última visita de Lula? Ah, tem também a história das AR15 e armamentos militares enviados pelos Estados Unidos, Rússia, Israel, a civilizada Holanda e os hermanos. Onde está aquela história de Chico Buarque de que o governo Lula fala grosso na política internacional?

Temas como estes não mereceriam umas palavrinhas do nosso cronista Aldir Blanc?

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Físico e escritor, Rio de Janeiro, RJ