‘O Wikileaks é uma nova fronteira de democratização da comunicação usando a internet como meio’, explica a jornalista Natália Viana, representante da badalada ONG no Brasil, em entrevista republicada por este Observatório da Imprensa (ver ‘Wikileaks e a nova fronteira da comunicação‘). A colaboradora brasileira de Julian Assange não foi muito clara, em compensação foi prudente e evitou apresentar o site como veículo jornalístico.
Fez bem: o Wikileaks neste momento é um colossal tambor voltado para a divulgação de informes confidenciais. Convém reparar: informe não é informação, tanto no aspecto filológico como estratégico. Informe é algo rudimentar, sem forma, estágio anterior à informação, conjunto de dados analisados e acabados. Os documentos revelados por El País na quarta-feira (15/12) sobre a fortíssima hemorragia intestinal que quase tirou Fidel Castro do rol dos vivos, em meados de 2006, ilustram perfeitamente o tipo de material distribuído pelo Wikileaks.
Velocidade e irrelevância
No dramático episódio, Fidel recusou submeter-se a uma colostomia que o obrigaria a usar por tempo indeterminado uma bolsa externa para a eliminação das fezes. É o que consta do informe do Departamento de Estado. A verdade é que, entrementes, Fidel resignou-se, usou a bolsa durante três anos (sempre disfarçada por roupas largas, tipo jogging), até que, depois de nova cirurgia, livrou-se dela e passou a se alimentar, vestir-se e atuar como antes.
O Wikileaks ofereceu um semifato (ou factóide) – esgarçado, diminuído, superado pelo tempo, que nas mãos de uma entidade verdadeiramente jornalística teria produzido uma detalhada e emocionante página da história contemporânea.
Com a ajuda dos Cinco Grandes, o Wikileaks está na vanguarda de um retrocesso distraindo o mundo com um ersatz de jornalismo, híbrido do cruzamento de velocidade com irrelevância. [Ersatz, do alemão ‘sucedâneo inferior’; termo criado durante o bloqueio naval aliado na Primeira Guerra Mundial, que obrigou os alemães a criar produtos substitutos sem qualidade.]
***
Em tempo 1: Em suas edições de quinta-feira (16/12), tanto o Globo como a Folha de S.Paulo (do grupo 5+2) não conseguiram acrescentar qualquer dado novo ao informe de 2006/2007 sobre Fidel, agora divulgado pelo Wikileaks. Ao contrário, tornaram-no ainda mais inconsistente.
Em tempo 2: o semanário inglês The Economist, primeira organização jornalística a premiar Julian Assange (em 2008), arrependeu-se e, no editorial da edição de 11-17 de dezembro, classifica seus vazamentos como ‘grande crime’. Mas critica duramente os Estados Unidos por entrarem em outra guerra sem chance de ganhar.