Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Declarações para exportação

O governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ministro da Justiça do governo Lula entre março de 2007 e fevereiro de 2010, disse em entrevista ao jornal argentino Página 12, sob o título ‘Ya no se trata de entrar, matar y salir’, coisas que talvez não dissesse a jornais brasileiros, menos distantes da Vila Cruzeiro e do Alemão. Depois de defender punição para pequenos consumidores de drogas ilegais (no Império, se dizia: ‘Nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder’), informou que as milícias foram desmanteladas no Rio de Janeiro. Para defender a participação das Forças Armadas na segurança pública, Genro reescreve o papel delas na ditadura militar.

Estamos diante de um fenômeno interessante: declarações sob medida para um público menos habilitado a discernir entre fato e ficção. Que o leitor julgue. A tradução utilizada, de Katarina Peixoto, foi publicada no saite Carta Maior.

‘Exército não tem tradição de violência antipopular’

Tarso Genro – No Brasil é necessária a repressão penal aos que compram inclusive pequenas quantidades, pois também são responsáveis pela construção do sistema de poder dos grupos mafiosos. (…) Há pouco tempo, o Rio travou um combate exemplar contra as milícias, uma organização de proteção mafiosa relacionada com velhos dirigentes políticos regionais. Um bom trabalho da polícia local e da federal desmantelou essa organização. Foi uma grande vitória da segurança pública.

Na Argentina, impressiona ver tanques do Exército envolvidos nessas operações.

T.G. – Reitero que só falo do Brasil. Mas as forças do Exército não participaram de ações armadas. Só controlaram pontos de intersecção. O trabalho foi feito pelas polícias. Temos uma Força Nacional, graças a um programa do governo federal, que tem capacidade de colocar em qualquer ponto do território nacional, em 48 horas, uma força de 300 a 500 homens altamente treinados para realizar ações policiais em um marco de respeito absoluto aos direitos humanos. Leve em conta que, no Brasil, os dois corpos mais respeitados são o Exército e a Polícia Federal. Os militares detiveram o poder absoluto em uma ditadura militar que durou 21 anos, entre 1964 e 1985. Mas, paradoxalmente, o Exército não tem uma tradição de violência antipopular nas ruas. Obviamente, estiveram envolvidos em casos de tortura ou em crimes dignos da barbárie, mas não realizaram uma caçada como ocorreu em alguns países latino-americanos.

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Jornalista