Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O São Francisco e o dever da imprensa

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Se você não conhece esta máxima convém anotá-la: quando a imprensa é notícia, alguma coisa está errada com a notícia e com a imprensa. A máxima confirmou-se mais uma vez hoje nos comentários de dois importantes colunistas políticos. Em vez de discutir a crise puseram-se a discutir a validade e a verossimilhança da denúncia da última Veja. O país está se transformando num imenso Observatório da Imprensa, isto é bom para a sociedade, que assim discute o que lhe concerne, mas é ruim para a imprensa, que pode perder sua credibilidade.


Imersos há quase seis meses num turbilhão político que parece não ter fim, não conseguimos nos fixar nos grandes problemas nacionais. O salvamento do Velho Chico, o rio de integração nacional, é um destes temas permanentes que não conseguia mobilizar as atenções até que, de repente, foi envolvido por um clima de grande dramaticidade. A greve de fome de Dom Luiz Cappio, bispo da Barra, na Bahia, conseguiu o milagre de levar o Rio São Francisco para as primeiras páginas e capas dos principais veículos do Rio e de São Paulo.


O bispo suspendeu sua flagelação em troca da promessa do governo de iniciar um debate nacional sobre o futuro do São Francisco. Mas, ironicamente, naquele exato momento o assunto evaporou-se. Pode ser que este debate esteja ocorrendo em seminários e colóquios, mas não chegou à grande mídia nem ao grosso da sociedade.


De repente descobre-se que a revitalização do São Francisco não é um problema regional, é nacional, mas para que isso se torne realidade e atenda à cruzada de D. Cappio será preciso que a imprensa lembre-se de que cabe a ela transformar as pautas locais em agendas federais. É este o objetivo da edição de hoje do Observatório da Imprensa: evitar que outras greves de fome sejam necessárias para que a imprensa cumpra a sua obrigação.