Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A vitória do abestado

Se fizermos uma retrospectiva dos últimos noticiários e acontecimentos do país, poderemos até imaginar que estamos vivendo um processo de retrocesso. Liberdade de expressão. Um ideal tão difícil de ser conquistado, problemático e conflituoso, que custou muitas vidas até ser alcançado.

Em pleno século 21, vivemos resquícios da ditadura militar (1964-1985), quando analisamos a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que proibia o humor relacionado a candidatos e política em programas de rádio e TV. Após a passeata nomeada ‘Humor Sem Censura’, criada por humoristas e simpatizantes pela causa como forma de protesto, os organizadores pressionaram a Justiça por mudanças na legislação eleitoral.

As sátiras, piadas e críticas a candidatos já fazem parte do contexto, quando o assunto é eleições. Por que acabar com toda a ironia e comicidade? Alguns políticos afirmaram que o motivo era a ridicularização dos mesmos. Mas a oposição afirmava que essa era mais uma jogada de marketing, para que casos e escândalos não fossem discutidos em formas de piadas pelos veículos de massa e, consequentemente, fossem esquecidos.

Entretanto, somos obrigados a assistir a candidaturas ridículas, que por si só já são consideradas piadas. Não há protesto nem censura conta estes tipos de candidatos. Como referência às ‘Diretas Já’ e fazendo jus aos ditados populares, ‘quem tem boca, vai a Roma’, ‘a voz do povo é a voz de Deus’ e ‘a união faz a força’, uma liminar foi concedida liberando o humor na política. Feliz 1985!

Marketing voltado para a realidade

Francisco Everaldo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, foi absolvido pela Justiça Eleitoral de São Paulo. Ele respondia a um processo de declaração falsa de testes de leitura e escrita para apuração de escolaridade e veracidade de alfabetização. O deputado federal eleito com o maior número de votos no Brasil, aproximadamente 1,3 milhões, no dia 3 de outubro deste ano, não foi considerado analfabeto absoluto, e sim funcional. Ou seja, de acordo com a lei, apenas com os conhecimentos rudimentares de leitura e escrita o candidato está apto parar exercer seus direitos políticos.

O autor do slogan ‘Pior que tá, não fica!’ ganhou o carisma de milhares de eleitores e poderia se tornar o prefeito da maior cidade do país, São Paulo, com o número de votos recebidos. Uma candidatura nada comum, totalmente fora dos padrões, que gerou um resultado surpreendente. Sem promessas, preocupações e planos de governo, mostrava a verdade escancarada por meio das frases: ‘Você sabe o que faz um deputado federal? Não? Nem seu, mas vote em mim que eu te conto’.

O deputado federal e seus advogados fizeram diversas alegações, como afirmar que o mesmo possuía problemas físicos nos nervos das mãos e por isso não conseguia escrever corretamente, mas logo foi desmentido por fotos que comprovavam que Tiririca dava autógrafos aos fãs. Durante os testes, ele demorou aproximadamente três minutos para fazer a leitura de uma manchete de jornal, apresentou dificuldades na escrita, ignorou o plural e ainda errou diversas palavras do ditado.

A candidatura de Tiririca foi baseada num marketing eleitoral voltado para a realidade. Talvez fosse o candidato que falasse a mesma língua do povo, que compartilhasse os mesmos anseios da sociedade ou talvez fosse apenas um candidato que representasse uma forma de protesto, revolta popular com os escândalos de corrupção e impunidades políticas.

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Estudante de Jornalismo, Uberaba, MG