Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No banco dos réus

O senhor Olavo de Carvalho, que se apresenta como filósofo, vai ter que provar na Justiça, mais precisamente na 47ª Vara Civil, que Mário Augusto Jakobskind integra os quadros da ‘inteligência cubana’, ou seja, que este jornalista é um ‘agente secreto a serviço de Cuba’, como o referido colaborador do Jornal do Brasil afirmou em artigo ali publicado em 9/9/2005.


O motivo da calúnia de Carvalho deve-se ao fato de eu ter apresentado uma moção no Conselho Deliberativo da Assoiciação Brasileira de Imprensa (ABI), aprovada por unanimidade, exortando os colegas jornalistas brasileiros a não se deixarem envolver pelo noticiário manipulado sobre a Venezuela que tem aparecido na imprensa.


Carvalho teria que se sentar no banco dos réus por ‘ofensa a honra’ e ‘reposição civil’. Como ele mora em Washington, o Jornal do Brasil terá que representá-lo e responder a ação judicial. Espera-se que a Justiça cumpra o seu dever, evitando assim que este senhor continue espargindo seu ódio contra pessoas, profissionais de imprensa ou não, de forma irresponsável.


Além disso, se por acaso alguém argumentar que uma ação reparatória desta natureza é atentatória à liberdade de imprensa, estará cometendo um equívoco sem tamanho. Caluniar e fazer afirmações sem provas, com o visível objetivo de ‘queimar’ a imagem do outro, é crime sujeito aos rigores da lei.


Extrema-direita


Liberdade de imprensa é algo completamente diferente. Não é, por exemplo, liberdade de empresa, como muitas vezes o patronato do setor e seus seguidores fazem questão de misturar.


No caso do senhor Carvalho, não é de hoje que ele prega calúnias em seu anticomunismo feroz. Há quem prefira nada fazer contra isso, argumentando que este senhor fala para uma meia dúzia de seres que pensam como ele, ou seja, para um número cada vez mais reduzido de pessoas. Não deixa de ser verdade, mas daí a aceitar passivamente as calúnias vai uma grande diferença.


O senhor Carvalho, que se intitula filósofo, vale lembrar, foi desqualificado academicamente pelos professores de Filosofia da USP (notoriamente de esquerda), em função de sua inconsistência de argumentos no debate filosófico naquela universidade. Chateado, ele decidiu ir à forra e utilizou este fracasso para reconstruir junto a um setor empresarial paulista a figura do intelectual pró-capitalista perseguido pelos comunistas. Na realidade, desde o governo Collor ele tenta se tornar o teórico da nova extrema-direita brasileira. É um direito que lhe assiste, desde que não agisse de forma irresponsável, caluniando e difamando.


Motivo da investida


Carvalho usava o título de jornalista até julho de 2003, quando o colunista Sebastião Nery, da Tribuna da Imprensa, provou por A mais B que o referido senhor que se diz filósofo não era jornalista. Parou então de se apresentar como tal.


Como escritor, Carvalho foi questionado pelo professor e ex-capitão do Exército Ivan Cavalcanti Proença, atual presidente do Conselho Deliberativo da ABI. Proença ficou indignado com o comentário do filósofo reprovado na USP, que chegou a afirmar que o número de assassinados pela ditadura era pequeno em relação à numerosa população brasileira.


Proença dirigiu-se ao Sindicato dos Escritores para saber se Carvalho era filiado a entidade. A resposta veio negativa. Foi criada uma polêmica, tendo o então presidente do Clube Militar, general Helio Ibiapina, se solidarizado com Olavo de Carvalho. Depois disso, Carvalho deixou de lado o título de escritor.


Na sua fase atual de residência em Washington, o senhor Carvalho ‘oferece’ comentários a jornais brasileiros sobre o Brasil. Não se trata de correspondências ou de análises sobre a política ou economia estadunidense, como faria quem fosse jornalista profissional. Vale então a pergunta: por que será que de Washington escreve sobre a realidade brasileira caluniando e destilando ódio?


Quanto a questão da Venezuela propriamente dita, que motivou a investida do senhor Carvalho contra este jornalista, é só pesquisar o que a grande mídia conservadora e alguns colunistas da mesma linhagem têm escrito. Carvalho não quer ficar atrás e por isso volta e meia vocifera contra a Revolução Bolivariana e contra Hugo Chávez.


Por estas e outras é que a moção apresentada no Conselho Deliberativo da ABI foi aprovada por unanimidade.

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Jornalista