Defensores do WikiLeaks alegam que a divulgação de dados sigilosos sobre governos representa um novo patamar na promoção da liberdade de informação. Além de ter provocado a ira dos EUA ao dar início à publicação de mais de 250 mil documentos de centenas de embaixadas americanas em todo o mundo, o site também vem criando problemas para as autoridades de países árabes, que agora se esforçam para que informações consideradas sensíveis não cheguem à população.
Tunísia, Arábia Saudita e Marrocos estão entre os países que tentam conter o fluxo de revelações do WikiLeaks referentes a casos de corrupção, autoritarismo ou simplesmente conversas privadas com interlocutores americanos. Mas o interesse do público sobre os segredos de Estado é grande. Matérias sobre os interesses comerciais do rei do Marrocos e sobre o nepotismo do impopular presidente da Tunísia, por exemplo, geraram tráfego intenso no site do jornal britânico Guardian.
Bloqueio
O francês Le Monde teve sua edição impressa proibida no Marrocos – assim como o espanhol El País e o Al-Quds Al-Arabi, diário pan-americano com sede em Londres. O site saudita Elaph foi misteriosamente hackeado quando publicou um artigo sobre os pedidos polêmicos do rei Abdullah aos EUA para que atacasse o Irã a fim de destruir seu programa nuclear.
O jornal libanês Al-Akhbar, de esquerda e pró-Hezbollah, conseguiu burlar o bloqueio e postou 250 documentos americanos sobre oito países árabes em seu site. Posteriormente, sofreu um ciberataque ao publicar o primeiro de dois documentos sobre o presidente Ben Ali, da Tunísia, o que reforçou a reputação do país como o maior inimigo da internet na região.
Nos países árabes em que a mídia é majoritariamente controlada pelo governo e as companhias de comunicação privadas exercem autocensura, a censura direta é o último recurso. No Egito, por exemplo, a imprensa deu pouco destaque ao material vazado pelo WikiLeaks sobre a sucessão presidencial, o papel do Exército e a hostilidade de Hosni Mubarack ao Hamas – todos temas sensíveis. Informações de Ian Black [The Guardian, 17/12/10].