Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jornalista que não aceitava
que lhe dissessem o que fazer

Conheci Roberto Moura no O Jornal, em 1968. Nasceu uma amizade fulminante, que se estenderia pelos 37 anos seguintes. Nesse período trabalhamos juntos em muitos veículos (quase sempre um levando o outro): Diário de Notícias, Última Hora, TV Manchete, A Notícia, O Dia e mais alguns. Prefaciei um ou dois de seus livros. Acompanhamos mutuamente a construção de nossas famílias. E tivemos, com elas, uma convivência social intensa.


Acho que ainda estávamos no O Jornal. Roberto escrevia sobre música, eu sobre cinema. Durante uma conversa na Escola de Comunicação da UFRJ, veio à tona a questão da abrangência de nossas colunas. Roberto me falou das vantagens de escrever num jornal pequeno. Não somos lidos por tanta gente, mas ninguém nos diz o que fazer.


Durante todos esses anos, acompanhei um amigo que se rebelava diariamente contra a idéia que alguém lhe dissesse o que fazer. O modismo e o politicamente correto lhe passavam ao largo. Só perdiam, no ranking de seu desprezo, para a rebeldia sem causa, para o espetáculo patético da ignorância explícita que assolou os segundos cadernos.


Poucas vezes vi alguém assim e não acredito que verei muitos no futuro. Roberto Moura foi um jornalista fundamental para a expressão do pensamento cultural desatrelado das exigências do mainstream. Um paradigma impressionantemente estável de integridade intelectual. Ao morrer, estava preparando para a Facha um curso de pós-graduação em jornalismo cultural.


O jornalismo cultural brasileiro não perdeu um pouco do seu passado. Perdeu um bocado do seu futuro.